Zulmira Mauricio Bártolo

 
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Zulmira era conhecida na aldeia de Fornos, no norte de Portugal, apenas pelo sobrenome Antera. Ao casar-se anos depois no Brasil viria a adotar o Bártolo, da família do marido, e ser conhecida pelo nome de batismo. Uma mudança carregada de simbolismos no novo lar, ainda que cercada pela família e pelas referências do universo de outrora.

Aos 23, deixara para trás a vida simples do campo, onde o tempo se dividia entre o tear e o plantio e colheita das típicas azeitonas e uvas. No Brasil e acompanhada apenas pelo pai, Antônio, tinha o objetivo de trabalhar e levantar dinheiro para trazer o resto da família. Trabalhava como costureira nas fábricas do Brás e da Penha, mas também em casa depois de o pai desistir de lhe dar uma bicicleta para comprar uma máquina de costura.

Dois anos depois ganharia a companhia de seus três irmãos, mãe e avó. A parte portuguesa da família se desfez dos bens e com o dinheiro conquistado no Brasil se realocou por aqui no início da década de 50. E da proximidade de seus familiares com outro grupo de conterrâneos conheceu Aníbal. Anos depois o futuro marido contaria orgulhoso ter sido abordado por Zulmira.

Ele trabalhava como cobrador de ônibus e depois como fiscal em uma garagem, e pela manhã completava a renda vendendo em uma barraca de feira. Ela dedicava-se à casa e aos quatro filhos que teria - Antônio, Mauro, Aníbal e Marcos - e ainda costurava para fora quando as crianças iam dormir. Foi carinhosa e serena, mas firme: não media palavras, falava o que tinha que falar.

Zulmira apreciava as coisas simples. De tal maneira que às vezes os filhos precisavam sumir com uma ou outra peça de roupa velha demais para ser usada. Ao mesmo tempo, resistia para usar presentes novos. Passava o tempo no tricô e crochê, ou ainda cuidando das plantas.

Ela realizou o grande sonho de ver seus meninos bem e formados na faculdade. E teve a sorte de conhecer sete netos. Mas quando chegaram os três bisnetos o Alzheimer já havia avançado a ponto de dificultar o reconhecimento das pessoas. Zulmira partiu de um jeito tranquilo, do alto de 92 anos bem vividos e cercada de amor.

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