Zilda Viena Gomes
A história de Zilda foi de libertação e de dedicação e amor ao próximo. Nova demais, aos 12 viu-se casada em Lajedão, no sul da Bahia, com um homem grosseiro e bem mais velho. Era costume na época aumentar a idade das filhas para se casarem logo, e com Zilda não foi diferente. Viveu como serviçal, carregando lenha e trazendo água do rio sobre a cabeça, mas sua sorte começou a mudar com o falecimento dele, quando ela tinha 18.
Seu segundo marido tinha exatamente o mesmo nome do primeiro, Joaquim Gomes, mas era completamente diferente. Foi valorizada desta vez, e mudou-se com ele para Guarapari, no Espírito Santo, onde construíam casas para alugar. Cabia a Zilda coordenar os pedreiros e o andamento das obras. Encorajada pelo empreendedorismo estudou corte e costura e passou a trabalhar com isso também, investindo o dinheiro em terrenos em Vitória.
Joaquim também faleceu e a ele sucedeu-se um terceiro relacionamento, que durou dez anos antes de terminar por incompatibilidade. Era chegada a hora de mudar, e Zilda vendeu tudo e rumou para São Paulo para ficar perto da família. Tinha cerca de 45 anos e chegou a trabalhar em um mercado, mas parou para cuidar da mãe, Arsênia. Costurava apenas para os parentes.
Era alegre e gostava de viajar de avião e era só ver um deles cruzando o céu para perguntar quando seria seu próximo passeio. De carro divertia-se nas paradas nos restaurantes do caminho. Observadora e farrista, balançava ao som de um sertanejo, deixava seu corpo falar nesses momentos. Com a idade foi perdendo também o filtro. Quando visitava alguém, depois de comer e beber, decretava que queria ir embora.
Tia Ló, como era conhecida na família, não teve filhos por ser infértil, mas dedicou a vida ao cuidado dos outros. Trabalhava e colaborava com o Asilo São Vicente, onde terminou passando os últimos tempos, e doou tudo que sobrava das suas finanças até os sobrinhos intervirem e ela passar a ter algo para o fim da vida.
Seu corpo seguia saudável, mas na mente o Alzheimer avançava. A situação, antes controlada, piorou com a pandemia até o ponto de não retorno. Tia Ló partiu, mas antes libertou-se, amou e cuidou.