Terezinha Evangelista Ramos

 
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Horas antes de partir e já com a respiração dificultada, Terezinha achou por bem cantar. Recebera alta no hospital após uma cirurgia no fêmur, mas aguardando a ambulância para casa sentiu o mal súbito derradeiro. Na TV começava seu programa favorito, apresentado pelo pastor R.R. Soares, com o tema de abertura característico de louvor country. 

“Estou seguindo a Jesus Cristo…” entoava ela com a canção e sob protestos do médico, preocupado com a manutenção do seu fôlego. Conhecesse melhor aquela paciente saberia que nada para Terezinha era mais importante que louvar a Deus, especialmente pelo lirismo de sua voz afinada.

Fora essa uma certeza inabalável em sua vida, desde os primeiros tempos na cidade mineira de Catas Altas da Noruega. Ainda criança, mas já em São Paulo, começou o serviço de doméstica que manteria até o fim. E aos 25 conheceu na igreja Otávio, 20 anos mais velho, com quem se casou depois de um curto namoro.

Tiveram seis filhos, mas apenas Teresinha, Deolindo e Clarice chegaram à idade adulta. Terezinha era analfabeta e sua visão de mundo simples não comportava grandes ambições materiais ou intelectuais. Conhecia sim a vida difícil, o trabalho na roça com o marido e os filhos pequenos. Vivia o hoje. Ao mesmo tempo, a inabalável fé assegurava que Deus proporcionaria aos seus um futuro diferente e melhor. Todas as coisas boas de sua vida atribuiu a Ele.

Era dona de uma bela voz e adorava cantar. Se algum dos filhos pegasse o violão e começasse a entoar um hino ou louvor era capaz de parar tudo para cantar junto. Teve na ação de louvar a Deus pela música um motivo para a própria existência. Seu maior sonho, não realizado pelas contingências da vida, era falar do amor de Jesus para as pessoas. Visitar hospitais e casas e curar a todos pela oração. Tal qual uma missionária, espalhando a Palavra.

Com seus olhos amarelados, Terezinha enxergava o mundo com cores mais simples, sem tons de maldade. Via nos outros o que trazia em si: uma atitude aberta e receptiva em relação a todos, sem segredos. E encontrava na cozinha uma conexão potente consigo e com o entorno. Suas especialidades mineiras - café, feijão e couve - eram tidas como as melhores do mundo.

Foi uma avó apaixonada pelos seus 11 netos, transformação operada já na chegada do primeiro deles. Era ela quem ficava com os pequenos na ausência dos pais, um prazer e realização para si.

Seu maior passatempo era o programa noturno diário de R.R. Soares. Poucas coisas a deixavam feliz como assisti-lo e cantar junto a música de abertura. Canção por ela repetida em diferentes momentos do dia e sempre capaz de trazer alegria. Um dia levantou-se para levar uma xícara à pia e teve um mal súbito. Na queda, fraturou o fêmur, dando início à sua despedida.

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