Rosemary Campanella Bastos
Rosemary foi quase infinita nos talentos, no trato e nas conquistas. Dotada de uma inteligência acima da média, optou pelo estudo, pelo trabalho, pela gestão, e de quebra conseguiu desenvolver talentos adormecidos enquanto guiava os filhos e cuidava da família.
Sua natureza não comportava conformismo, e foi levada por ela que aos 18 anunciou que deixaria a casa dos avós onde vivia com os pais e com o irmão Antônio. Não gostava de como a mãe era tratada por lá, e seu movimento acabou emancipando a todos. Os quatro tornaram-se de fato uma unidade familiar em um novo lar, enquanto a vida entrava nos eixos.
O ensino de qualidade obtido com bolsa de estudos, mais um tributo à sua inteligência, abriu as portas para um curso técnico de contabilidade. Fora uma das precursoras entre elas mulheres da área, mas Rosemary sabia do próprio talento com os números. Naqueles tempos trabalhava de dia como secretária e frequentava as aulas à noite. Trabalhou com estatística depois de formada.
Casada com Levy, foi quem administrou a empresa de consertos de máquinas de escrever que abriram. Cuidava da comida, da limpeza, da organização dos funcionários e até do livro-caixa. A companhia adaptou-se ao tempo passando a fazer assistência técnica de computadores com a quase extinção das máquinas de escrever.
O outro projeto de ambos, os filhos Erika, Fábio e Débora, Rosemary quis que fossem ainda mais longe que si. Orgulhava-se de vê-los estudando, incentivados por ela. E seu sonho tornou-se realidade: Erika concluiu um MBA em gestão de pessoas, Fábio tornou-se funcionário público concursado e Débora conquistou três pós-doutorados, um em Harvard.
Rosemary realizava a proeza de se mover pela vida com personalidade sem abrir mão do jeito amável. Tudo colocava no lugar, era o eixo da vida da família. Gostava de vê-los reunidos, de preparar refeições fartas e celebrar o encontro e o amor. Admirava agora o caminhar dos netos Brenda e Dante.
Com o passar dos anos passou a se reconectar com antigas paixões. O piano, praticado em um teclado de papel quando criança e, com algum sacrifício financeiro dos pais, com uma professora, retornou na vida adulta. Um piano de presente reabriu para si o fértil caminho da música. Voltou a tocar, a cantar. Aprendeu o violão e chegou até a compor canções originais. Influenciado por ela, Fábio formou uma banda e escreveu uma parceria com a mãe. Erika também toca violão e piano, inspirada em Rosemary.
Porque nunca deixara de sonhar. Para si e para os seus. Como quando apoiou Erika a concluir a faculdade mesmo quando as mensalidades atrasavam. "Continua caminhando, nada de parar! Depois resolvemos" dizia. Ou ainda dedicando todas as energias para que Débora chegasse ainda mais longe. Generosa, abdicou de muito por seus filhos.
Se não logrou conhecer a Itália após obter a cidadania com a família, começou a reconquistar a liberdade de uma vida independente na faculdade iniciada aos 67 anos. Os últimos anos foram um tempo de amizades, de conexões e descobertas. Fora amada por muitas pessoas.
O câncer surgiu nessa época, e retornou nove meses depois da primeira cirurgia. Foram três anos de luta, de altos e baixos e de um olhar grato frente à vida. “Filha, vou fazer a cirurgia, você pode achar que não sou corajosa, mas é que os números positivos são infinitos, mas os negativos também o são e eu adoro trabalhar com números negativos", disse a Débora então. Rosemary sempre foi inteligente, compreendera muito antes do que é feita a nossa caminhada.