Regina Penha de Brito Silva

Regina experimentou um renascimento após vencer seis anos de depressão. Emergiu interessada nas coisas do mundo, no movimento e nos filhos, Marcelo e Alexandre. Teve ali a chance de um verdadeiro recomeço, como se desperta do torpor que lhe nublara a visão por tanto tempo.

A verdade é que até então não se permitira parar e apreciar. Viu criança sua mãe, Cida, dando duro para criar a si e ao seu irmão, Ernani, após a separação com seu pai. No batente desde os 15, estava destinada a uma história similar. 

Com José teve seus meninos, mas também divorciou-se e viveu uma situação semelhante à da mãe, precisando trabalhar o tempo todo para sustentar a casa e os filhos.

Então Regina trabalhava de domingo a domingo, abrindo mão até mesmo do convívio mais intenso com seus filhos em nome de algo ainda mais prioritário. O baque veio quando, por conta da idade, não conseguia mais encontrar trabalho na sua área, vendendo acessórios para carros. Foi um momento difícil para alguém cuja trajetória profissional e a identidade pessoal eram tão próximas. Marcelo assumiu os gastos da casa, onde também vivia Cida.

Regina buscou tratamento e virou outra pessoa. Foi enfim ter uma vida mais normal e um tempo de maior qualidade com os seus filhos. Seu maior passatempo agora era sair de casa e passear. Com Alexandre vivendo na Itália, pedia para Marcelo a levar onde fosse. Quando o programa eram festas LGBT respondia “Mas não tem música lá? Quero me distrair!”. Tinha a mente aberta, avessa a preconceitos.

A lida com ela era fácil. Amorosa e atenciosa, gostava de bater papo e era respeitosa, evitava ao máximo brigas e discussões. Em seu apartamento cuidava das plantas e de seus bichos de estimação: uma calopsita, uma gata e um cachorro. Realizara todos os seus sonhos, menos o de morar em uma casa com quintal.

A saúde até então admirarável regrediu quando surgiram dores persistentes ao urinar. Após repetidas visitas ao hospital, descobriu meses depois um tumor profundo e após algumas internações partiu. Antes disso, Regina já havia aprendido a ser feliz.