Maria Severina de Andrade

 
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O tamanho de Maria Severina às vezes enganava os incautos. Era pequena, mas valente e capaz de colocar medo quando contrariada ou injustiçada. Pernambucana de Belo Jardim, sua personalidade forte não permitia levar desaforo para casa. E para seus oito filhos, de dois casamentos, isso bastou: dava bronca e eles obedeciam, nunca precisou usar de violência para ser respeitada.

Lembrava com saudade dos tempos de criança no Nordeste, uma infância maravilhosa em sua memória. Lembrava-se do pai, José, voltando das viagens a trabalho montado em um jegue, carregado de histórias para a menina ouvir sentada ao seu lado.

Seu primeiro marido também chamava-se José, o conheceu na cidadezinha mesmo. Foram cinco filhos com ele antes de se separar e levar as crianças consigo para a também pernambucana Jabitacá. Estabelecendo em definitivo uma conexão bíblica entre seus nomes, o segundo marido também chamou-se José. Tiveram três filhos antes da separação.

Até então, Maria cuidava do lar e da prole, mas isso estava prestes a mudar. Primeiro arregaçou as mangas e foi para a roça alimentar os pequenos. E depois, dois dos mais velhos que já viviam e trabalhavam em São Paulo juntaram dinheiro para buscar a si e aos mais novos. 

Na cidade grande deu ainda mais duro. Passava, lavava, trabalhava em um restaurante e aos finais de semana ia ajudar uma amiga em outro. Eventualmente carregava suas crianças consigo, e não era raro que entrasse à noite trabalhando.

Suas raízes pernambucanas seguiram fortes e vivas na culinária, onde reinavam soberanos o sarapatel, o mocotó e a buchada. Outro passatempo era costurar com a agulha na mão. Talentosa, quando terminava parecia ter usado uma máquina de tão pequenos os pontos.

Alegria para Maria era ver os filhos bem e próximos de si. Teve netos, bisnetos e até tataranetos, uma prole difícil de contar e a quem conquistava sempre com o jeito brincalhão. Chamavam-na todos de vozinha. 

Dizia ter vivido tudo o que tinha que viver e ter aproveitado com a sua família do jeito que queria. Dificuldade para ela era até bom para aprender mais e ser madura. Ultimamente andava se sentindo um pouco fraca, apesar de bem disposta. Mas durante uma viagem com a família para São Roque passou mal e teve uma parada cardíaca. Faleceu nos braços da filha Claudia, plena de amor.

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