Marlene Aparecida Dada Ferreira
De Marlene um dia disseram que se houvessem três pessoas como ela no mundo não haveria mais guerras. Dominava o dom das palavras certas para os momentos certos, como pôde atestar quem a buscou quando estava nervoso. Por transmitir essa paz e felicidade onde passava tornou-se querida pelo seu entorno e satisfeita em sua caminhada.
Na verdade, já desvendara o segredo desde a infância. Com apenas nove precisou assumir o serviço doméstico e o cuidado da irmã mais nova, Maridinei, enquanto os pais trabalhavam fora. Se seus primeiros anos não foram os mais lúdicos, soube encontrar já naqueles tempos a alegria de viver.
Conheceu Reinaldo na pracinha da Igreja Santo Antônio do Pari, onde os jovens se reuniam para paquerar naqueles tempos. Décadas depois ele ainda chorava lembrando do momento em que a viu e percebeu-se apaixonado. Foram parceiros por toda a vida, um pelo outro sempre.
Antônio e Leni foram fruto dessa união. Com frequência ouviram de Marlene que humildade não era obrigação e sim virtude, assim como a honestidade. Foi mãe não só para eles, mas também para os quatro sobrinhos. E quando um dos seus trazia um amigo para os grandes almoços de domingo em sua casa, era também ele recebido como filho.
Marlene praticamente criou os cinco netos, acompanhou de perto a infância de todos e adorava tê-los por perto em casa, assim como os três bisnetos. Amava cozinhar e preparava pizzas com massa caseira, mas era a feijoada que sempre arranjava motivos para fazer, qualquer aniversário ou comemoração era uma boa desculpa para o prato.
O Alzheimer surgiu em 2015 e foi se agravando gradativamente até a sua partida cinco anos depois, prestes a completar 80 anos de vida. Antônio ainda lembra de chegar em casa da rua meia-noite e encontrar a mãe acordada, esperando para esquentar sua comida. Nesses momentos aguardava que ele fosse dormir para também ela descansar. Hoje o filho tenta ser apenas mais parecido com ela. Marlene foi mais que rara, foi única.