Maria Cândida dos Santos

 
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O bairro todo lembra com saudade do bolo de fubá de Dona Candinha, distribuído pela própria aos muitos amigos do entorno. Era aquele um complemento digno à sua personalidade marcante, expansiva e brincalhona, capaz de mudar o entorno onde estivesse, da feira ao mercado, do cartório ao banco.

O apelido carregava desde a infância, ao lado de seus cinco irmãos. Depois da vinda ainda muito nova de Restinga, interior de São Paulo, para a capital, a infância fora pobre. Ajudava a mãe, Helena, a cuidar da casa e a lavar roupas para fora, e parou de estudar na quarta série para contribuir trabalhando como diarista. Vem dessa época e contexto o trauma sempre rememorado com Papai Noel. Pedira uma boneca, mas ganhou um peão.

Adolescente começou a trabalhar como costureira em uma oficina de uma conhecida, Marli, e lá conheceu o irmão dela. Atílio seria seu marido após 12 anos de namoro, e a futura cunhada uma companheira por quase seis décadas. Com mais dinheiro comprou a primeira TV e a primeira geladeira para sua mãe. Ajudar sempre foi seu impulso natural.

Atílio era guarda civil e sua única farda era lavada e passada por Candinha todos os dias. Brigavam, mas não se separavam em uma relação de parceria e de presença. Foram dois os filhos: Ligia e Paulo. Passou a cuidar da casa e das crianças depois do casamento e para eles fez tudo: os levava a pé na escola e nos cursos, bordava as roupas. Certa feita foi de ônibus até a antiga loja Mapping só para comprar um jogo para os pequenos. Se não sobrava tempo de sentar com eles e brincar, se fazia próxima de outras maneiras.

Gostava de fazer as festinhas de aniversário dentro de casa com a bagunça da criançada da rua. E anos depois passou a curtir as viagens para a fazenda da família no interior de São Paulo. Mas o que mais lhe fazia feliz eram os plantões semanais na igreja. Era o seu prazer e distração estar lá.

Candinha lamentava o fato de não ter tido mais carinho no seu casamento e queria ter passado mais tempo com a mãe, que partiu jovem aos 51 anos. Mas realizou-se quando descobriu que seria avó. A chegada de Helena, batizada com o mesmo nome de sua mãe, foi a materialização de um sonho. Depois vieram ainda Ana Clara, Esther e Amabile. Curtiu tudo isso antes de a doença avançar.

O Alzheimer se manifestou aos 68 anos, mas tornou-se mais dependente nos últimos dois. Internada por complicações partiu no hospital, levada por outras infecções e após despedir-se dos filhos. Candinha havia deixado sua marca.

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