Luiz Carlos Borges
Luiz até tentou, mas a paixão pela arte foi maior que qualquer tentativa de vida profissional mais convencional. O trabalho como auxiliar de escritório paulatinamente deu lugar ao de arte educador na sua trajetória de vida. Nascera para o teatro, para a música, para a poesia… e focado na eterna busca pela expressão da sua alma adotou até outro nome. Precisava ser fiel ao seu desejo.
Adolescente era envolvido com o grupo de jovens da igreja lá e aprendeu a tocar violão. O ouvido musical herdou do avô, Francisco, também ele músico. Nessa época conheceu Toninho e através dele o mundo do teatro. Nunca mais seria o mesmo. Apelidado de Luigi Marafiotti - muita gente nunca soube que se chamava na verdade Luiz - fez parte de alguns grupos teatrais, até de um de serenatas, encenou peças e ganhou um novo norte para sua trajetória.
A arte tomou conta de tudo e os escritórios deram lugar ao ensino de artes. Deu aulas de música e de teatro e até engatou uma faculdade de Letras para poder ampliar suas referências de Literatura e de Filosofia. Compositor de canções para crianças, adquiriu o hábito de se apresentar em hospitais infantis todo o fim de ano.
A primeira esposa, Maria, conheceu ainda jovem no Colégio Anchieta, em Sāo Bernardo. Depois do casamento construiu para ambos uma casa no mesmo terreno onde cresceu, moraria lá por toda a vida. O relacionamento lhes deu a filha Khin Stephanie, que tinha sete anos quando separaram-se. Depois de um tempo conheceu Silvana, com quem teve Maria Luiza antes de também separar-se.
Luiz era bastante presente quando estava com a família. Dava conselhos, conversava sobre a vida e sobre a música, sobre história e sobre política. Gostava de ensinar. Se com Khin a rotina e a correria do trabalho limitaram essas interações, Maria Luiza teve dele uma presença mais constante e dedicada. Influenciadas por ele, as duas desenvolveram aptidões artísticas, e Luiz chegou até a revisar as histórias que a caçula escrevia.
Viveu alegre até quando não estava, e se doou para as meninas até quando não podia. A teimosia e o jeito decidido eram a fachada de alguém altruísta e otimista, de coração sonhador e bom.
Naquela tarde com Marcia, sua companheira há dez anos, completava um dia gostoso. Assistiam juntos a uma novela na TV quando ele brincou a chamando para namorar. O infarto agudo veio naquele enlace. A partida de Luiz exprime a busca do sublime que deu sentido à sua vida. Foi como esteve, amando e sendo amado.