Maria de Fátima Machado

Maria aprendeu muito naqueles primeiros tempos em Pouso Alegre, Minas Gerais. Órfã de mãe ainda bebê, seguiu entre a casa do pai e da madrasta e viu os três irmãos mais velhos espalharem-se na ressaca do lar desfeito. Nunca recuperou-se de todo daquela perda, mas jurou que seria diferente quando finalmente chegasse o momento e formar a sua própria família. E assim foi.

Adolescente, partiu para ganhar a vida em São Paulo. E no trabalho formal e informal como diarista encontrou sustento para si e para os seus. Foram quatro os filhos: Neide, Julio Cesar, João Paulo e João Jeferson, criados sozinha com seu esforço e suor. Aquele fora seu maior legado, ser mãe, e a maior e mais completa realização. Tanto que foi mãe mais duas vezes; para as noras e para os netos.

O jeito coruja e acolhedor no trato com seus filhos intensificou-se na lida com sete netos: Isabela, Julia, Nicole, Leticia, Bianca, João Vitor e Gustavo. Talvez pela primeira experiência com a sua família não permitiu que os laços se perdessem, mesmo depois do crescimento deles. Iluminava-se a cada oportunidade de reuni-los.

Maria valorizava a dádiva de estar viva e de sentir-se aproveitando esse presente. E o extrovertido transbordar dessa alegria era das características mais marcantes. Gostava de Carnaval e de sair nos blocos de bairro de Guarulhos. Era com esperança e antecipação que se questionava se no ano seguinte seria capaz de sair novamente. E seria. 

Acompanhava com interesse as partidas do Sāo Paulo, mas era na Copa do Mundo e na farra de bater panelas e de fazer festa que se encontrava. Em momentos mais calmos praticava o tricô adquirido na infância; muita gente da família tem arremates feitos por ela. Preparava também os doces dominados na mesma época, quando ajudava a tia e a madrinha. “Quem é do interior aprende a fazer muita coisa muito cedo”, dizia.

Maria se tratava de um câncer de mama quando a doença subitamente se agravou. A presença, dedicação e a sua importância na vida dos netos deixaram na sua ausência uma saudade difícil. Mas plena de boas memórias e de amor.