Dagoberto Miranda Diogo

 
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Dagoberto era amigo do silêncio. Das longas e morosas tardes na sua cadeira de praia, sentindo o vento do litoral acariciando o seu rosto. Das longas viagens, longe da família e dos amigos, trabalhando com o seu conhecimento raro e valioso. Moldou sua vida a partir dessa sensibilidade, ou teve o olhar influenciado por ela? Certo é que soube romper a barreira do silêncio para estabelecer conexões impossíveis de esquecer.

Fora o mais velho de cinco irmãos, e após um infância simples serviu ao Exército. Sua vida profissional, porém, seguiu outros caminhos. Tornou-se um técnico especializado em montar fornos industriais para fabricação de bolachas recheadas e de biscoitos. Especialidade incomum, o levou para diversos lugares do Brasil e até de países vizinhos, e o manteve requisitado depois da aposentadoria.

Era comum precisar de meses para concluir cada um desses trabalhos, e as viagens o apartavam de casa por longos períodos. Em uma dessas ocasiões encontrou Maria Glória. Estava em Fortaleza, e a paixão pela moradora da cidade foi fulminante. Meses depois, casados, e voltavam para São Paulo juntos. Ela cuidou da casa e administrou o lar enquanto ele trabalhava fora e muitas vezes longe.

Por conta da distância, desenvolveram uma relação sem grandes demonstrações de amor, e por vezes até turbulenta, especialmente nos últimos anos, quando passaram mais tempo juntos. Mas Dagoberto a amava intensamente; era Deus no céu e Maria Glória na Terra. E quando ficava sozinho em casa repetia o nome dela diversas vezes.

Tiveram duas meninas, Alexandrina e Constância. A natureza do serviço de Dagoberto fez dele um pai ausente. A natureza das emoções, alguém rígido e autoritário quando estava em casa. Do tipo que proibia idas ao portão.

Seus cinco netos e um bisneto conheceram uma pessoa diferente. Para Júnior, Bruno, Caroline, Renan, Matheus e João Lucas foi um avô amoroso e atencioso, querido pelos pequenos. Com as viagens a trabalho rareando após a aposentadoria, tinha tempo e disposição para dar a eles a atenção que toda criança quer. E assim construiu momentos indeléveis. 

Bruno, por exemplo, nunca esqueceu a caminhada pela linha de trem perto da casa de praia em Mongaguá. Os primos lembram dos buracos na areia, cavados fundo para que ficassem cobertos até o pescoço.

Aquela residência foi um refúgio para Dagoberto até converter-se em moradia definitiva, para a qual ansiava retornar quando ia para a capital. E na cadeira de praia cochilava às tarde, curtindo o silêncio. O gosto pelos jornais da TV, pela caipirinha caseira na praia, e pelo amargor do café eram outras peculiaridades a movimentar a serenidade interior. Assim como as frequentes subidas no coqueiro do quintal para pegar cocos.

Foi levado por um câncer de pulmão, despedida rápida de uma vida plena e de uma jornada repleta de aprendizados e de amor.

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