Manuel Raimundo da Silva

 
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Manuel foi um homem de poucas distrações. É verdade que sabia dançar e gostava de fazê-lo, mas sua vida foi mesmo definida pelo trabalho duro na terra, enxada e calos na mão, sol a pino na cabeça. Na lavoura criou os dez filhos. Bom Conselho, no sertão pernambucano; e depois nas cidades do interior paulista e Goioerê, no Paraná. A família crescia e ele precisava estar lá para todos.

O casamento com Doralice ocorreu ainda na Pernambucano natal, onde as sete primeiras crianças nasceram. As outras três vieram entre as mudanças em São Paulo. Manuel conseguiu ser amigo e próximo dos filhos apesar do jeito por vezes mais bronco, especialmente na época da lavoura.

Na mudança derradeira para Guarulhos foi faxineiro por alguns meses antes de ser contratado como zelador até a aposentadoria. Doralice partiu cedo aos 51 e, viúvo, Manuel chegou e casar-se novamente, desta vez com Magnólia. Foram 23 anos juntos, e ele ajudou a criar a caçula dos quatro filhos dela.

Nunca tivera passatempos, não praticava esportes e não via graça no futebol, ao contrário de seus filhos, torcedores apaixonados. Mas ao lado de Magnólia descobriu a paixão pela dança, pelo forró, e o fazia muito bem. Mais calado que falante, apreciava também uma boa prosa, uma conversa espichada. Manuel fora abençoado com mais netos e bisnetos do que podia contar. À sua maneira, um pouco mais sisuda talvez, curtiu todos.

Já vivia com um dos filhos em Caraguatatuba, no litoral de São Paulo, quando o silêncio passou a reinar em si. Por vezes passava longos minutos só observando a sua família sem nada dizer. Com o tempo parou também de andar. Quando finalmente foi internado, o corpo desacelerando e descansando, partiu em apenas uma semana, sem sofrimento e ou arrependimento.

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