Luiz Florentino da Gama
O jovem Luiz vencia a pé os quilômetros que separavam sua casa do povoado mais próximo antes de calçar seu único sapato. Gostava de festa e de dançar, não apareceria lá com um calçado estropiado. Eram aqueles os tempos em Águas Belas, interior de Pernambuco, na vida simples do campo. Mas, ao contrário dos oito irmãos, fora poupado do trabalho na roça por ser o caçula e queridinho da mãe, Maria do Carmo.
Aos 12, em um pau de arara veio para São Paulo, acompanhado por um tio. Viveu com ele por um tempo enquanto trabalhava vendendo óleo na feira e também objetos variados de cozinha. Morou em pensões e com amigos até conhecer sua futura esposa.
Iracema era filha de pai bravo, mas Luiz tinha carisma o suficiente para conquistá-lo e se dar bem com a família. Tiveram dois filhos, Sonia e Luiz Carlos - foi um herói para os dois. Com ele nunca houve tempo ruim, dificuldade ou rancor. E era alguém mencionar uma cadeira quebrada que ele consertava na hora. Quando a esposa começou a sentir dores nas costas lavando a louça, prontamente ganhou um banquinho para sentar.
Luiz trabalhou por muitos anos em uma empresa de rodas e de aros de caminhão, até se aposentar. Apesar de não ter estudado, chegou a ser encarregado por lá porque, inteligente e simpático, era querido pelo dono do negócio. Dizia que não precisava de instrução para fazer um bom serviço e sim de espaço.
Aposentado, não aguentava ficar em casa. Vendeu um telefone outros bens para comprar uma perua e fazer carreto. Depois a trocou por uma caminhonete e fez ele mesmo uma carroceria para poder fazer transportes mais volumosos. De tanto ficar na praça Gopouva, e também com certa lábia, ganhou uma permissão da Prefeitura de Guarulhos para trabalhar lá, algo antes não permitido.
Teve três netos, Thatiany, Renan e Ligia; e dois bisnetos, Tales e Laura. Já era conhecido como Seu Luiz do Carreto até o menino mais novo passar a chamá-lo de Biu (seu jeito de dizer Biso), e o novo apelido pegar. Doravante conhecido como Biu do Carreto, recusava-se a parar de trabalhar quando sugeriam que o fizesse, era tudo para a sua família. E ainda dava 100 reais de presente quando o serviço, o “pescocinho”, tinha sido bom.
No dia em que partiu Luiz trabalhou até as 17h, horas antes de ter um AVC e ser internado. Deixou muito de si para trás, os bancos da varanda do quintal, o corrimão no banheiro para a esposa. E o final daquela piada que começou a contar em uma reunião de família, mas de tanto rir não terminou. Dela, deixou os sorrisos agora multiplicados.