Francino Ferreira Neves

 
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O hobbie de Francino foi também seu ganha pão, um elemento definidor da sua trajetória e um divisor de águas na vida de muitos familiares. Construir era sua paixão e assim, de pouco em pouco e muitas vezes aos finais de semana, colocou de pé sonhos múltiplos e deixou um legado de amor concreto como seu material de trabalho.

Caçula entre numerosos irmãos, Francino deixou os cuidados do pai, da madrasta e das irmãs aos 16 para se virar sozinho. Trocava ali o interior de Minas Gerais do fim dos anos 40 pelo interior de São Paulo e logo depois pela capital em expansão.

À época dedicava seu tempo à construção, e no caminho para uma das empresas onde atuou, no Jaçanã, criou o hábito de admirar uma jovem em sua casa. De tanto ir e vir começaram a conversar e sua história com Dalvina entrou em movimento. A primeira filha do casal não sobreviveu, mas depois vieram Sérgio, Celso e Márcia.

Foi um pai acolhedor e amoroso, mas sabia ser rígido quando preciso. Se as formas mais comuns de carinho lhe escapavam, efeito de uma infância onde essa não era a norma, foi companheiro e dedicou toda a sua energia à família. Aos filhos e também a parentes como o jovem cunhado Dalvo, para quem foi uma espécie de segundo pai com a partida do sogro. Francino fazia o que podia para ajudar. Da sua maneira por vezes rústica, mas sempre amorosa. 

Após o convite para ser zelador em um prédio que construiu, as obras tornaram-se seu hobbie de fim de semana. Ele se aposentaria naquela função após mais de 40 anos de trabalho. Incansável, aos finais de semana ainda tocava construções, para si e também para parentes. Era um de seus prazeres, além de estar perto da família. 

Foi responsável pela vinda de boa parte dos familiares de Minas Gerais para São Paulo, acolhendo-os em uma grande casa que erguera na zona leste. Conforme iam comprando terrenos, ajudava na construção, nas fundações e alicerces. Amava sua profissão, e a conhecia como ninguém.

Para as cinco netas, Larissa, Mariana, Laura, Gabriela e Sophia, foi um avô bajulador, apaixonado e puxa-saco. Eram seu xodó e podiam pedir dele qualquer coisa. Na interação com as meninas brilhava seu lado cômico, de caretas e brincadeiras com a dentadura a cantorias no karaokê. Já sentia nessa época alguns dos efeitos dos seus problemas ósseos, mas segurava a barra da dor para aproveitar o tempo ao máximo.

Conforme a osteoporose avançava e o impedia de andar sozinho, sonhava em ficar bom para cuidar de Sérgio, filho mais velho cuja saúde deteriorara com a epilepsia, e da esposa, vítima de esquecimentos mais e mais frequentes. Após a cirurgia que seguiu à fratura de seu fêmur quis passear mais, até ir visitar os parentes no interior. Foi levado por complicações do procedimento. Cheio de planos, de conquistas e de amor.

"22 de julho de 2020, meu avô faleceu. Do que se pode colocar um ponto final, na verdade exprime em algo além de vírgulas, ponto e vírgula e reticências. Ele ensinou a mim, aos seus filhos, netos e toda a geração uma terna história de amor. E é deste exemplo grandioso que vemos Deus agir nessa união, em seu propósito genuíno de família, procriação e alegria. Porque o seu sorriso era uma constelação vasta na imensidão de nosso céu particular, como um planetário da própria família do qual nunca nos esqueceremos".

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