Eleonor Covolan

 
Obituário-Eleonor Covolan.png

Trajando vestidos floridos e dirigindo seu fusquinha até quando a idade permitiu, Eleonor não parava em casa. Ia à ginástica, aos bailes da terceira idade, ao programa do Silvio Santos e ao sagrado bingo de domingo. “O que ela mais gostava era da independência dela”, conta a neta, Giselle. 

Eleonor foi obrigada a assumir essa atitude autônoma ao longo da vida. De origem humilde, desfrutou de uma infância simples ao lado de seis irmãs e dois irmãos em três cidades do interior paulista: Agudos, Tupã e Bauru. Mas quando moça, apaixonou-se perdidamente por José e não permitiu que a desaprovação dos pais fosse um impedimento para o relacionamento. Fugiram e, juntos, construíram uma família composta por quatro filhos, quatro netos e cinco bisnetos.

Porém, nem o amor está imune ao destino. O nascimento do primogênito, Dalton, acarretou a mudança para a capital, por conta de problemas cardíacos do pequeno. Mesmo com o esforço dos pais, ele não resistiu — a primeira das muitas perdas da vida de Eleonor.

A felicidade com o nascimento da quarta filha, Eliete, foi logo interrompida pelo luto da morte do marido. Ele tinha apenas 33 anos, ela por volta de 30. Ficou sozinha com suas três crianças  — Esaú sofria de epilepsia e necessitava de cuidados especiais da mãe. Por um breve período de tempo, deixou-os na casa dos pais no interior até conseguir comprar uma residência em São Paulo. Foram incontáveis horas dedicadas ao trabalho como costureira, tudo para prover segurança aos pequenos. 

A vida dela foi de batalha. Endurecida pelas lutas diárias, nunca foi de beijos, declarações e abraços. O afeto vinha na forma de um pudim de leite que só ela sabia fazer, servido aos domingos a toda família. 

Um pedaço do doce passou a sobrar quando Esaú também deixou-a aos 33 anos. Com a morte dele, passou a olhar mais para si. Tornou-se uma assídua frequentadora dos eventos da terceira idade — e chegou a conquistar o título de Rainha da Primavera. 

Mesmo com os frequentes convites da família, preocupada com a sua solidão no lar, Eleonor optou pela independência de dividir sua casa apenas com as duas cachorrinhas de estimação, Debi e Babi. 

Após nove décadas de vida, ela já estava acostumada à proximidade com a morte: viu partirem quase todas suas amigas de bingo. O que não esperava era o falecimento do filho mais velho, Hélio, acometido por um câncer de pulmão. Ficou muito abalada, pois desde o óbito do marido ele havia sido seu braço direito.

Com a pandemia, em 2020, tudo ficou ainda mais difícil, e perdeu a liberdade tão prezada. Mais tarde naquele mesmo ano, foi acometida por uma trombose. Após ser operada, foi parar direto na UTI. Dali, não mais voltou para a casa cheia de escadas e memórias. 

Marketing Primaveras