Hélio de Cerqueira Barros

 
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O rosto fechado, o bigode e o corpo opulento davam a Hélio um ar de autoridade. Todos os amigos da filha Giselle tinham medo dele. Porém, por trás daquela máscara encontrava-se um homem doce e bondoso, que abdicou muito de si pelo bem estar da família. “Era uma couraça que ele precisou assumir ao longo da vida”, explica a caçula.

Desde cedo teve de deixar as brincadeiras infantis de lado para ajudar na subsistência da família. Tornou-se o braço direito da mãe após a morte do pai, quando tinha entre cinco e seis anos de idade. Passou a vender balas e sorvetes para garantir o sustento da irmã, recém-nascida e do irmão do meio, que sofria de epilepsia.  

Na venda de sorvetes, conheceu o grande e único amor de sua vida, Elizete. Para chamar a atenção da amada, passava pela rua dela de bicicleta, exibindo-se. Floresceu ali a paixão que povoou cartas de amor, encontradas pelas filhas após a morte do pai. O namoro engatou quando ele ainda tinha 16 anos, um relacionamento marcado por descobertas e cumplicidade. 

O casamento não tardou a chegar, após seis anos, e a união resultou em duas filhas e quatro netos — infelizmente, só conheceu três destes. Era uma relação única: faziam tudo juntos, viviam em uma mesma sintonia.

Além da vida amorosa, Hélio também encontrou cedo o caminho profissional. Começou como office boy de uma corretora de câmbio e, anos depois, assumiu o posto de corretor. Era apaixonado pelo trabalho, só pensava nisso, e só fechou os olhos quando ouviu da esposa: “— Hélio, tá tudo certo na corretora”.

Mesmo tão demandado, sempre encontrava tempo para ajudar a família, o que lhe rendeu a alcunha de “jeitoso”. Gostava de consertar coisas, suas ou dos seus. Quando o crescimento financeiro da família permitiu, adquiriu uma casa no interior de Águas de Santa Bárbara e, depois, um chalé em Nazaré. Cultivou aqueles espaços com zelo, deixou-os como sonhara. 

Aos 62 anos, foi acometido por um câncer de pulmão que debilitou-o tão velozmente quanto os carros aos quais era apaixonado. “Aquele homem lindo, forte, que sempre estava de terno, de repente ficou magrinho, fraquinho...”, lembra Giselle. Seu último ato foi casar Danielle, a filha mais velha. Bem vestido, com a careca escondida por uma boina e o bigode bem ajeitado, esteve junto aos seus por uma última vez.  

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