Dinorá da Paz Ferreira dos Santos

 
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Dinorá conquistou muito — ou quase tudo — com seu tempero baiano e comida cheirosa, inesquecível para os privilegiados que tiveram a sorte de provar seus pratos. A venda de marmitex possibilitou sustentar os dois filhos sozinha e comprar sua casa, onde se divertia entre arrumações e reformas — parecia nunca estar satisfeita com seu cantinho. Sua galinhada era famosa, mas realizava-se mesmo nas Sextas-feiras Santas. Sempre reunia a família para um almoço regado a peixes e camarões.

Quem via aquela mulher sorridente dificilmente imaginaria o quão durona poderia ser. “Sempre foi uma mulher guerreira. Conquistou tudo com a luta dela”, resume prontamente a caçula, Vanessa, quando perguntada sobre a história da mãe. A vida de Dinorá não foi doce como os chocolates feitos com o farto cacau da sua terra, Itabuna. Quando tinha 12 anos, deixou a Bahia junto aos pais e aos 11 irmãos. Foram a São Paulo em busca de melhores oportunidades. Como muitos naquela época, conheceu o trabalho cedo, era a única opção.

Em uma das muitas empresas por onde passou, apaixonou-se por João. Aos 22 anos, logo quando tiveram o primeiro filho, Wanderley, casaram-se. A relação não era fácil, o marido bebia muito e tinha ciúmes da esposa. Quando a filha mais nova recém havia nascido — tinha apenas um mês de vida — resolveu separar-se. O ímpeto maternal impedia-a de manter-se em um lar onde as crianças poderiam não estar tão seguras.

Como mãe solo, sofreu com o preconceito. Mas sempre foi uma mulher à frente de seu tempo, prezava pela liberdade e autonomia. E defendia os filhos, não tinha medo de impor-se. Chegava até mesmo a envolver-se em brigas físicas com homens se com os dois implicassem. “Eles podem até não ter pai, mas têm mãe”, dizia. Como avó, não poderia ser diferente, foi extremamente zelosa e carinhosa com os sete netos.

Mesmo com a sinceridade acentuada — por vezes até demais, como lembra Vanessa —, Dinorá era querida por todos. Sábia para as coisas da vida, com frequência esteve na função de ouvinte e conselheira.

A recíproca, no entanto, não era verdadeira: dispensava opiniões sobre como deveria agir. A filha, inclusive, atribui à teimosia a sequência de fatos anteriores à partida da mãe. Dinorá foi acometida pela Covid-19 e teve de ser internada, mas logo recebeu alta. Novamente em casa, de lá não mais quis sair, mesmo quando as complicações da doença agravaram-se. Sozinha, deu o último suspiro.

 “Junto com ela, morreu uma parte do meu coração”, confessa Vanessa. Mesmo alguns meses após o ocorrido, o falecimento de Dinorá ainda é doloroso para seus familiares e conhecidos. A eles, deixou saudades e boas lembranças com cheiro de tempero baiano.

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