Nelita Sena de Oliveira

 
Obituário-Nelita Sena de Oliveira.png

Não precisa ser doutor para ser feliz. A conclusão ao mesmo tempo simples e profunda foi um dos grandes aprendizados de Nelita, a Tia Lô, durante sua caminhada. Com jeito simples e pouco estudo logrou viver bem e à sua maneira, cercada por amigos e por uma família querida e unida.

Sua infância em Piritiba, na região da Chapada Diamantina, foi movimentada por quase 20 irmãos e irmãs e pela rotina na lavoura de subsistência, trabalhando a terra e cuidando dos animais sob o sol perene do interior baiano.

A vinda para São Paulo deu-se ainda na sua adolescência, parte da corrente migratória responsável pela transformação da cidade com jeito interiorano em uma das maiores metrópoles do mundo. Lá já viviam outros familiares — os Sena se reconhecem como numerosos e espalhados pelo Brasil e até por outros países.

Nelita contribuiu para o crescimento do novo lar com o próprio suor. Trabalho pesado nunca fora estranho a si: foi operária em metalúrgicas, frigoríficos e empresas de móveis. Mesmo semianalfabeta, aprendeu a se virar na megalópole. Conseguia andar de ônibus só decorando os números.

Tia Lô teve alguns namorados, mas não casou. “Essas coisas a gente não escolhe”, dizia para quem perguntava. Viver a vida à sua maneira era mais importante. Morou com a sua mãe e depois com uma irmã. Sabia bem executar as funções de casa e sua comida simples — arroz, feijão e bife acebolado — era certeira. “Dificilmente alguém não gostava”, lembra o sobrinho Osvaldo.

Sozinha, divertia-se com a TV e com programas como o do Luciano Huck. Acompanhada das muitas amigas — do trabalho, do bairro, da família — gostava de tomar café ou um chá jogando conversa fora. Eram amizades sinceras aquelas, calcadas em opiniões e sensibilidades similares.

A fé de Tia Lô não respeitava os dogmas das religiões organizadas — acreditava em Deus e isso bastava. Sonhou e conquistou uma família feliz, fizera tudo para isso. Também ansiava viver em um país melhor, o que também ocorreu. Teve razão no fim: não precisara ser doutora para ser feliz.

Marketing Primaveras