Antonio Pedromonico

 
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O futebol perdeu o ponta-esquerda Antonio na época do seu casamento. A carreira, interrompida no estágio semi-profissional, fora sonho germinado ainda criança e alimentado pela paixão intensa pela bola e pelo Palmeiras. Conforme a família passou a ocupar um lugar mais central em sua vida ficaram apenas as partidas do Verdão como lembranças daqueles tempos.

O motor daquela mudança, e de tantas outras, atendia pelo nome de Aparecida e um dia ficou de papo com ele no guichê da empresa de ônibus Pássaro Marrom, no Centro de São Paulo, onde o jovem trabalhava. Ela tinha 14 e voltava da aula, ele, aos 21, estava no primeiro emprego. O namoro virou casamento quatro anos depois, quando ela completou 18.

O futebol deu lugar a três filhos: Nilva, Marta e Eduardo. Na dinâmica particular daquela família cabia a Antonio o papel do pai permissivo, e à sua mulher, filha de espanhóis, o de mãe autoritária. Ele demonstrava carinho nos pequenos atos, como quando cobria Marta, já adulta, com um cobertor no meio no meio da noite e desligava o rádio na cabeceira da cama.

Antonio parecia ser das pessoas incapazes de dizer não. Dono de um bom e mole coração, ele fazia todas as vontades da esposa. Até quando envolviam se afastar dos seis irmãos, da família e dos amigos por conta do jeito possessivo da parceira. Nada era páreo para o seu bom-humor e para a leveza com a qual via a vida.

Àquele emprego na Pássaro Marrom seguiu-se uma vida profissional diversificada. Trabalhou em uma fábrica de tapetes; em um banco; como dono de mercadinho; e como proprietário de empresa de extração de areia. Ainda jovem mudou de ramo mais uma vez, de maneira definitiva. Passou a construir casas e viver de aluguel. A rotina na labuta pouco se alterou, agora Antonio saía cedo com seu lanche para pintar os imóveis e fazer reparos até o fim da tarde. Foi assim até completar 80 anos.

Descansava assistindo ao seu Palmeiras na TV, jogando bilhar com o filho na mesa que tinham em casa, ou encerrado em seu quartinho de ferramentas. Viajava também com a família para a praia, primeiro na casa de Caraguatatuba e depois em Bertioga, mas uma vez lá nunca saía para o mar. Ficava no lar, geralmente trabalhando em algum reparo.

Por alguma razão insondável Antonio queria viver até os 104 anos. Se não chegou tão longe, também não fez feio do alto dos 91. Foi internado após passar mal com comida no esôfago e ser diagnosticado com pneumonia no hospital. Partiria 23 dias depois, sereno como sempre foi.

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