Silvangela Pereira Flores Berttonio
Silvangela viveu o início e o fim amalgamados, o círculo da vida completando-se quando finalmente conquistava o tão desejado sonho de ser mãe. A chegada da sonhada Mariana coincidiu com o diagnóstico e o tratamento do câncer que a levaria. Profissional da saúde, sabia dos riscos, da expectativa, do tempo. Não disperdiçou um segundo de amor à sua pequena e de luta para permanecer ao lado dela.
Paulistana, foi a mais velha em um lar simples e feliz. Seus pais, Edivaldo e Maria Helena vieram de Minas Gerais - se não proporcionaram luxo foram capazes de dar a ela e aos irmãos Soraia e Eduardo uma infância com afeto e boas lembranças.
Silvangela demonstrou cedo um apetite voraz pelo conhecimento. Estudou Biologia e na faculdade conheceu Vagner, futuro marido. Sustentou-se antes e durante o curso como operadora de máquinas em uma indústria, mas, após a universidade e numa dessas reviravoltas da vida, passou em um concurso para a prefeitura de Guarulhos e tornou-se enfermeira em um posto de saúde.
Amava o trabalho e sonhou em fazer uma segunda formação, desta vez na área. Mas seus interesses intelectuais e leituras eram vastos e esse desejo convivia em si com a vontade de estudar e lecionar história. Sua inteligência e esforço eram facilmente reconhecidos pelo entorno, ainda que ela mesma às vezes duvidasse de si ou desse muita importância para as opiniões alheias.
Seu jeito introspectivo escondia um humor ácido e sagaz, que brilhava apenas na interação com quem conhecia e confiava. Informada, tinha opiniões sobre tudo, mas também mantinha-se aberta a outras perspectivas.
Seu norte sempre foi a família, do contato frequente com os pais à amizade próxima com a irmã, com quem saía para passeios ou idas a botecos. Se não era de fazer amigos facilmente, cultivava de maneira dedicada relações de décadas. Sozinha, aproveitava o tempo para ler e para assistir a filmes e séries.
Tinha 41, dos quais nove casada com Vagner, quando recebeu exultante a notícia da chegada de Mariana. Soube do câncer de mama no quinto mês de gravidez e passou a tratá-lo logo após o parto até superar a doença. Era uma mãe coruja pois sentia o tempo correndo contra si.
Mesmo acompanhando mensalmente o seu estado de saúde descobriu tempos depois tumores em outros lugares. Enquanto o câncer se alastrava, Silvangela sentiu dor, mas nunca reclamou. Estava determinada a não deixar ninguém sofrer, a ser forte pelos outros. Venceu também nisso.