Ronaldo Alves Domingos
A poucos artistas é concedida a dádiva de conhecer a sua verdadeira natureza e potencial criativo. A uma fração ainda menor, o privilégio de poder trabalhar em conexão com essa paixão tão íntima e forte. E a um número ínfimo o reconhecimento do próprio gênio em vida. Ronaldo pertenceu à última categoria: um artista da gastronomia, como se sabia, cuja maior felicidade era ver um belo e bem construído prato terminado com um sorriso no rosto. Em sua caminhada conquistou isso e muito mais.
Seus primeiros tempos, o único menino entre os cinco filhos de José e de Noêmia, passou feliz entre banhos de córrego, piqueniques e pescaria com o pai e a com o primo Juraci. Viviam todos então na recém-nascida Brasília, uma terra pouco explorada e de grandes promessas.
Muito cedo, aos 18, conheceu sua primeira companheira. Com ela teve um casal de crianças, Ronara e André Luiz, mas o relacionamento não foi adiante. Antes de chegar a São Paulo aos 32 viveu em Palmas, no Tocantins, onde encontrou Maria Garcia, colega de trabalho, chef como ele. Da cumplicidade, amizade e amor que construíram mais três filhos vieram - Ruan, Alexandre e Ana Beatriz.
Foi companheiro para suas cinco crianças e um segundo pai para seus quatro netos. Realizou o sonho de ver a família feliz. Com os outros sobressaía a generosidade e seu lado tolerante, especialmente frente aos inevitáveis defeitos. Ronaldo era conhecido pelo jeito conciliador, pela disposição em acomodar e acolher. Mas sobretudo pelo jeito tranquilo e alegre, e pelo amor absoluto à gastronomia, seu destino e maior motivação.
Ronaldo era um sujeito de prazeres singelos, como beber café, ouvir música e assistir televisão. Ou ainda adormecer com os pés descobertos, mesmo no frio. Já o jeito medroso remetia ao seu lado infantil. Já adulto e acampando em uma lagoa com a família não conseguiu dormir porque acreditava haver uma sucuri gigante na água, e jurava que um disco voador surgiria na madrugada. Foi uma noite hilária para todos os presentes.
Partiu cedo, em meio a uma rotina de muito trabalho e responsabilidade, mas sabendo-se muito amado. No silêncio que se faz, ainda ecoam os versos eternos de Alceu Valença naquela que era sua canção favorita, Anunciação
Na bruma leve das paixões que vêm de dentro
Tu vens chegando pra brincar no meu quintal
No teu cavalo, peito nu, cabelo ao vento
E o Sol quarando nossas roupas no varal
Na bruma leve das paixões que vêm de dentro
Tu vens chegando pra brincar no meu quintal
No teu cavalo, peito nu, cabelo ao vento
E o Sol quarando nossas roupas no varal
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
A voz do anjo sussurrou no meu ouvido
Eu não duvido, já escuto os teus sinais
Que tu virias numa manhã de domingo
Eu te anuncio nos sinos das catedrais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Na bruma leve das paixões que vêm de dentro
Tu vens chegando pra brincar no meu quintal
No teu cavalo, peito nu, cabelo ao vento
E o Sol quarando nossas roupas no varal
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
A voz do anjo sussurrou no meu ouvido
Eu não duvido, já escuto os teus sinais
Que tu virias numa manhã de domingo
Eu te anuncio nos sinos das catedrais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais