Maria Bernadete Baptista

 
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Maria viveu seus 97 anos de vida guiada por uma sólida lucidez. Lembrava com facilidade de passagens da infância, mantinha-se informada nos telejornais e debatia questões da política nacional com intimidade. Cercada pelos seis filhos, 13 netos e cinco bisnetos, pôde se orgulhar da vida que construíra para si.

De Itapira, no interior de Sāo Paulo, foi para a capital com apenas oito anos, acompanhada pela irmã. Tornaram-se órfãs nessa época e seriam criadas pela madrinha, Margarida, na cidade grande. Se os primeiros anos foram emocionalmente e materialmente difíceis, nunca passou necessidade.

Nas idas e vindas para o trabalho em uma loja em Santa Cecília conheceu Virginio. Ele era dono de uma banca de frutas e empreiteiro. Casaram-se quando Maria tinha 26 anos. O marido revelou-se um homem à frente do seu tempo, assumindo as funções da casa e do cuidado dos filhos quando ela já estava sobrecarregada. Tiveram cinco crianças: Lia, Roberto, Neide, Areovaldo, João Reinaldo.

A vida estável como dona de casa, cuidando dos rebentos, sofreu um abalo com o falecimento de Virgínio. Maria precisou trabalhar como doméstica para sustentar os filhos, e os pequenos adquiriram cedo um senso de responsabilidade ao olhar uns pelos outros. Nunca fora rígida ou disciplinadora com broncas e castigos, encaminhou os seus na base do cuidado e do diálogo.

Houve um segundo casamento, com José de Paula, vizinho de rua. Da relação tranquila e harmoniosa de ambos, mais uma filha, Elaine. Os filhos dizem que, à sua maneira amorosa e paciente, Maria nasceu para ser mãe e foi fiel à sua cria. Como avó de 13 e bisavó de cinco fora um pouco diferente. Passou a achar tudo engraçado e tudo deixava fazerem.

Amava ver TV, seu passatempo favorito era assistir ao Chacrinha, ao Ratinho, ao Datena. Ou ainda as novelas e telejornais. Também não dispensava os jogos de futebol. Não só os do Santos, seu time, mas todos os outros.

Maria não venceu na Tele Sena como sonhou, apesar de todos os bilhetes que pediu para comprarem. Foi levada quase um século após os tempos de Itapira por uma infecção generalizada. Na lacuna do seu jeito tímido e tranquilo ficou apenas saudade.

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