Maria de Lourdes Vieira Colli

Na infância de dificuldades e de brinquedos improvisados era Maria de Lourdes quem cuidava dos dois irmãos, Aparecido e Olaide, na ausência da mãe, Aurora. Mesmo sendo mais nova que o primogênito. O pai, Pedro, falecera quando eram todos ainda pequenos - coubera à esposa o cuidado e o sustento dos três. 

Um pouco mais velha, Maria seguiu ajudando em casa de outras maneiras. Trabalhava em uma quitanda com a mãe para completar o rendimento familiar. Seguiria firme no serviço até os 22, quando já casada com Grafil passou a dedicar-se ao seu lar. 

Ele era bancário, e juntos tiveram apenas uma criança, Marcelo. Arteiro, o menino testou sua paciência e seu pendor materno. Maria passou com folga, porém. Era totalmente dedicada àquele seu filho, único. Não pudera ter outros por conta da saúde frágil, propensa a problemas cardíacos, trombose, diabetes… Grasil cuidou muito dela durante essas cinco décadas juntos. Eram unha e carne, inseparáveis onde quer que fossem. 

Em seu lar, era a dona de casa mais prendada que se tem notícia. No chão, nem um mísero cisco. Na cozinha, feijoadas, macarronadas, pudim e o bolo de limão apelidado pela família de bolo verde. As visitas passavam bem por lá. O hobbie de cozinhar, prazer e distração, virou bico quando começou a fazer doces para fora. O sucesso e o reconhecimento dos seus brigadeiros, beijinhos e bichos do pé na família precisavam ser compartilhados com o mundo. 

Maria tinha um jeito comunicativo, gostava de conhecer pessoas, de falar, e de estar nas conversas. Seu bom humor não dava pistas das doenças e das dores. Nunca foi vista para baixo e nunca deixou-se abater por essas ou outras agruras. Deixou a memória de uma mulher forte, guerreira, de fé, dona de um coração de mãe que queria acolher a todos. 

Seu único sonho era ver a família bem e suas netas, Nathália, 23, e Beatriz, 13, formadas na faculdade. Antes de descobrir o câncer terminal que a levou em apenas 20 dias conseguiu, mesmo com as pernas ruins, ver a formatura da mais velha. Sua imagem, chorando de alegria por aquela conquista, não será esquecida jamais.