Juarez Fernandes dos Santos
A paixão de Juarez por carros o acompanhou desde a adolescência em Itambé, na Bahia. A pujança da fazenda da família permitia ao pai, Hercílio, mimá-lo com os modelos antigos que se tornariam seu maior objeto de desejo. Jovem e aventureiro, andava a cavalo e trabalhava com os cinco irmãos na terra.
As boas condições financeiras também garantiram até ama de leite à esposa, Laudi, com quem casou aos 17. Cinco anos depois e já pai de quatro filhos rumou para São Paulo atrás de condições melhores de trabalho. Insistiu para que a mulher seguisse em casa, cuidando dos filhos. As duas últimas crianças do casal já nasceriam na cidade grande, depois que voltou para buscar a família.
Empregara-se, como não poderia deixar de ser, consertando carros em uma oficina mecânica. Também mantinha muitos equipamentos em casa, prontos para socorrer os eventuais carros quebrados nas cercanias. Seu carisma a disposição para bater papo lhe garantiram muitas amizades no entorno. Andar com ele na rua era como acompanhar um prefeito, parando frequentemente para cumprimentos.
Dentro de casa era divertido, amante de churrasco, de festa e de cerveja. Alegrava-se com visitas e fazia questão de receber parentes e conhecidos da Bahia em sua casa. Fora presente na vida dos filhos, especialmente na dos mais jovens, uma mudança trazida com a idade. À caçula, Bianca, buscava na escola e nos cursos. Levava comida para o trabalho dela, ligava para saber se estava bem e lhe dava conselhos. Fez questão de ensinar todo mundo a dirigir e a cuidar dos carros.
E seguiu colecionando veículos antigos, obtidos em trocas e permutas pelo seu trabalho. Chegou a ter em casa dois Chevettes, Palio, Belina e um Dodge, seu xodó maior e o único que nunca cogitou vender. Sonhava em tê-lo equipado com todas as peças originais e pronto tanto para rodar quanto para ficar em casa como uma espécie de museu sobre quatro rodas.
Um AVC tirou-se a mobilidade do lado esquerdo, e durante a boa recuperação caiu e precisou passar por uma cirurgia. O agravamento de uma diabetes e outro AVC o levaram. Juarez, com sua alegria característica, queria muito viver, mas não resistiu.
Bianca lembra-se do pai, microfone em punho, cantando karaokê nos churrascos em casa. As canções de Benito di Paula, sua especialidade, e “Proteção às Borboletas” a favorita nas cantorias para os filhos. Pedira para que ela nunca se esquecesse dessa música, mesmo depois de sua partida:
“Eu sou como a borboleta
Tudo o que eu penso é liberdade
Não quero ser maltradado,
Nem exportado desse meu chão
Minhas asas, minhas armas,
Não servem para me defender
As cores da natureza pedem
Ajuda pra eu sobreviver
Você que me vê voando
Como a paz de uma criança
Você sabe a minha idade
Eu sou sua esperança
A ordem da humanidade
Não deve ser destruída
Quando eu voar me proteja”