Walter da Silva

 
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Perdera a mãe quando tinha apenas dois anos de idade, e com ela certa estabilidade familiar. Mas reencontraria o acolhimento ao ser adotado diversas vezes durante a vida: pelos tios, pela avó, pelas famílias de um amigo e da futura esposa, pelos colegas de trabalho e pelos vizinhos. A explicação para tal era singela: Walter era uma pessoa fácil de gostar. Simples, quietinho como bom mineiro e de bom coração convidava a simpatia alheia.

A necessidade o levou, ainda bebê, a fazer um rodízio na casa dos tios até enfim parar na casa da sua avó Maria após a partida da mãe, Palmira. Geraldo, seu pai, casara-se de novo e a madrasta só aceitara criar o seu irmão do meio, Deusdete, desprezando a si e à Maria do Socorro, irmã mais velha.

A infância em Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais, não era de todo ruim porém. Aprontou com os irmãos e primos, subindo em ávores para roubar frutas de outros sítios mesmo quando precisavam fugir do cachorro do dono depois. Na mudança para uma Belo Horizonte ainda interiorana e cercada por mato manteve o contato próximo com a natureza, morando novamente com o pai,. E apanhava dele quando fugia para pescar na represa da Pampulha.

Walter já contava 17 anos e trabalhava como cobrador de ônibus quando Geraldo decidiu se mudar com a família para São Paulo, sem levá-lo. Sem teto mais uma vez, chegaria também à metrópole de uma maneira mais inusitada e sua. Fora acolhido como filho pelos numerosos parentes de um colega de trabalho, vindos no norte e acostumados a receber pessoas e a ajudar. Eis que quando os mais jovens passaram a rumar para São Paulo, a família em peso decidiu migrar, desta vez com Walter entre eles.

Geralda surgiria em sua vida pouco depois. Trabalhava na casa de uma família italiana, onde amigara-se de duas primas de Walter. Seis meses depois de ouvir falar do tal primo bonito, finalmente o conheceu. A primeira impressão foi um tanto decepcionante para ela: apenas um ano mais novo, parecia demasiado moleque, além de baixo e magrinho. Ficaram amigos, mas seis meses depois ele a pediu em namoro.

A resistência incial deu lugar à aquiescência e a um casamento um ano e meio depois. Ao viajar para Mariana e conhecer a também mineira família dela, Walter seria adotado pela terceira vez. “Era tudo para eles, foi acolhido como um filho. Acho até que gostavam mais dele que de mim”, recorda Geralda.

Dos quatro filhos, apenas duas meninas sobreviveram, Elaine e Maria. A sua tão sonhada família completaria-se com a adoção do menino Cleyton. Bom pai, deu duro como eletricista a vida inteira para criá-los com conforto. Aposentou-se após um acidente na firma onde trabalhou praticamente toda a vida, mas continuaria fazendo bicos ocasionais por lá, onde o consideravam, mais uma vez, parte da família.

A vida era boa no Jardim Bela Vista, em Guarulhos, onde viveram por 45 anos. Gostava de tocar violão e de ouvir caipira e sertanejo raiz na rádio. E agradava Geralda tocando músicas românticas quando ela pedia. Os vizinhos de rua eram também uma grande família, tema tão recorrente em sua vida.

A doença de Chagas, descoberta com alarme 42, lhe daria ainda quase 30 anos de vida. Mas ao fim foi piorando e partiu após um AVC. Walter teve quatro netos e deixou órfãos não uma, mas várias famílias.

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