Ilda Collegio
Na intersecção entre dois mundos, o adulto e o infantil, Ilda logrou viver, trabalhar e se aposentar. Venceu como poucas - da fragilidade do próprio corpo, e as persistentes doenças da infância até um período longo de alcoolismo. Existiu nos seus termos e à sua maneira pacata, grata e calorosa.
Caçula de cinco irmãos, mudou-se para São Paulo ainda criança com Alzira, Verônica, Maria e Nico. Os pais, Alexandre e Francisca, compraram um sítio no campo verde onde hoje ergue-se em concreto Itaquera, depois de um tempo na Vila Ré. Sua infância foi difícil, porém, reflexo das doenças que persistiam em acometer seu corpo.
Após a partida dos pais, uma parte do terreno foi vendida e outra dividida entre os filhos. Ilda tornou-se vizinha de Verônica. Depois de chegar a Itaquera não sairia mais, seriam seis décadas na pacífica e familiar rotina do bairro em lenta transformação.
A mente de Ilda era norteada pela mesma inocência que guia as crianças. Ainda assim, trabalhou e se aposentou na Ford, na linha de montagem de peças. E ganhou como recompensa uma rotina tranquila e caseira como aposentada.
Ficava muito em casa, ouvindo sertanejo ou Roberto Carlos na companhia do gato Billy e de Frederico, cachorro que morreu antes dela. Mas também apreciava os passeios, nem que fossem ao mercado ou ao médico, com a irmã Alzira. Verônica à época sofria com problemas de locomoção.
Seu maior desejo estava condicionado à sua própria partida: dizia a todos que quando falecesse seria cremada, e assim o foi. Grata à sobrinha Dagmar e ao marido Júlio Cesar pelos cuidados, deixou a eles sua casa. Dela ganhara o apelido “Preguiça”, fora doce como uma.