Elicivaldo Senna Munduruca

 
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Roberto Carlos queria instalar frisos cromados em seu famigerado calhambeque. O ano era 1965, o acessório a última moda automotiva, e a loja escolhida o local onde Elicivaldo trabalhava como vendedor. A história, um marco na vida profissional do homem que a dedicou à venda de acessórios para carros, foi contada e recontada por décadas a cada novo especial de fim de ano do Rei na televisão.

Elicivaldo sempre soube ter potencial demais para as possibilidades limitadas da baiana Lençóis. Tinha sete irmãos e desde os 12 trabalhava no comércio da cidadezinha, absorvendo tudo os meandros da arte das trocas e da lida com os clientes. Ali teve a certeza: seria bom nisso.

O sonho de fazer seu nome em São Paulo precisou esperar, porém. O pai, Tertuliano, só permitiu que deixasse o povoado após comemorar seus 21 anos de idade. Na cidade grande viveu com o irmão Odalvo, já ele um empresário de certo renome no ramo de acessórios para automóveis. Convidado, Elicivaldo topou na hora participar da expansão da Loja dos Cromados, desta vez em Guaxupé, Minas Gerais.

O destino quis que lá fosse, pois conheceu Águeda em uma festa da cidade. Casaram pouco depois. A relação deles, pautada pelo amor, respeito e comprometimento, foi de parceria por quase seis décadas. Criaram juntos cinco filhos homens: Elivaldo, Rogério, Josué, Odalvo, Ulisses. O sonho de ter também uma menina realizaram na adoção da recém-nascida Áurea, criada como filha e registrada com o sobrenome deles.

Elicivaldo foi um pai próximo e atencioso e ajudou cada um deles como pode. Queria que fossem seu espelho, para o qual projetava humanismo e dignidade. Abriu em São Paulo sua primeira loja de acessórios, após o tempo como vendedor. A Senna Car, hoje tocada por Ulisses, conta 50 anos de história e passou pela direção de todos os filhos.

Teve seis netos e um bisneto. E foi apegado a Rafael, Lenita, Maira, Lara, Leonardo, Gustavo e Maximiliano, mesmo com cada um morando em uma cidade diferente. Nos últimos tempos apreciava a passagem das horas em sua poltrona na sala, olhando os aviões passarem no ceú. E sonhava com o filme “O Seresteiro de Acapulco” - desejava saltar no mar da mesma pedra usada por Elvis Presley em uma das cenas.

Era ativo e independente aos 81, dirigindo bem e fazendo seus passeios com a esposa em pequenas viagens. Mas pouco depois a fibrose pulmonar que desenvolveu passou a restringi-lo no que mais amava: as saídas com Águeda. Uma parada cardíaca o levou aos 83 anos, o ponto final de uma vida de conquistas, de amor e de liberdade.

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