Antonio Luiz Grego
Quando os moradores da pequena Arapeí, no interior de São Paulo, ficaram sabendo do falecimento do policial Antonio não houve espaço na igreja para a missa em sua homenagem. Apesar de não mais morar no vilarejo há décadas, as pessoas ainda lembravam do seu comprometimento com a manutenção da ordem por lá.
Na capital, onde cresceu e cuidou dos irmãos, sua mãe, Emília, lavava roupa no rio enquanto o pai Josué sustentava a todos com a força dos próprios braços. As idas dela a pé até o curso de água, carregando os cestos, às vezes consumiam o dia inteiro; cabia ao filho mais velho olhar pela casa e pelos pequenos. Já adulto, revoltava-se com a sujeira do Tietê e lembrava saudoso dos frequentes mergulhos nas águas cristalinas com os mais novos.
Fora até escoteiro nessa infância paulistana impensável, marcada pela responsabilidade precoce do cuidado com Sonia e Valter, a quem chamavam de Nenê. Aos 18 tornou-se policial militar logo após o serviço militar obrigatório, também para ajudar financeiramente a família na criação deles. Aposentaria-se na corporação que já era parte indissociável de sua identidade.
Em um baile em uma discoteca no Ipiranga conheceu Rosa. Trocaram telefones naquela noite, mas seis meses depois já estavam casados - e ela grávida da primeira das três filhas que teriam juntos. O trabalho dela como recepcionista na emergência de um hospital foi substituído pelo cuidado com a casa e com Juliana, Amanda e Sabrina.
Além do serviço como policial militar, Antonio também se empregou em uma seguradora e até na prefeitura de Guarulhos. Com sua rotina intensa, saindo cedo para voltar só no fim do dia, não deu luxo para a sua família, mas também não deixou faltar nada.
O jeito comprometido com o qual exercia a função de policial, muito dedicado em combater o crime, além do jeito pouco afeito à hierarquia, acabou rendendo diversas transferências. A família viveu em Bananal, Taquaritinga e Arapeí.
Antonio era um sujeito extrovertido, parceiro de brincadeiras e piadas, e contador de histórias. O bom humor indestrutível aproximava as pessoas. Com os muitos amigos jogava cartas e dominó. Frequentava o caminho de bocha do clube ao lado da sua casa para partidas de carteado e organizava campeonatos de truco em sua casa. A família não podia viajar sem trazer para ele um chaveiro do lugar visitado. Ele tinha essa mania.
Conheceu cinco netos, com quem tinha uma boa relação: Vinícius, Guilherme, Giovana, Lívia, Laura. Mas antes que virassem adultos descobriu ter uma cirrose hepática comum na família. Complicações da doença, do coração e por fim dos rins o levaram ao fim. Antonio não será esquecido.