Cristiane dos Santos Barbosa
A pequena Cristiane era conhecida pelas brincadeiras na rua, pelas bagunças, pela personificação de uma infância saudável. Até seu joelho começar a doer. Os médicos não compreendiam a origem do desconforto e receitavam pomadas e compressas, sem sucesso. A menina agitada foi mudando de comportamento, se retraindo mais e mais. Diagnóstico mais definitivo só aos 16: o lúpus poderia ser controlado, mas lhe daria apenas mais 10 anos de expectativa de vida. Nunca deu bola para a previsão, viveria mais e melhor que isso.
Estudou, trabalhou, namorou e até desrespeitou seguidamente as orientações médicas, viajando para tomar sol no litoral de São Paulo, uma das suas paixões. Cristiane foi vivendo e ignorando a ideia de que partiria cedo.
Depois da faculdade, tornou-se professora de Português e de Inglês de escolas públicas estaduais e depois de municipais. Divertia e conquistava seus alunos pré-adolescentes com o bom humor e o jeito sarrista, tirando onda de tudo e de todos. Gostava de trabalhar com eles textos jornalísticos, considerava-os mais ligados em histórias reais
Em sua casa, porém, reinava a literatura, nacional e estrangeira, os desafios intelectuais da filosofia, e as obras sobre história da arte. Reuniu em sua biblioteca cerca de 500 livros, incluindo obras sobre os santos, sobre o Evangelho, sobre a vida de Jesus. Apesar da atração pelos assuntos da fé, não se identificava com nenhuma igreja.
A despedida da mãe, levada em um ano por um câncer agressivo, foi um baque para si. Era Madalena que estava mais próxima, e a levava para exames e consultas. A dor da perda acelerou o seu próprio processo de debilitação. Primeiro foi a doença a retornar, depois os remédios a pesar sobre o corpo. Estômago, fígado, pulmão, articulações e por fim os rins foram afetados até a inevitável partida.
Cristiane se foi sete dias antes do aniversário de 43 anos. Muito além dos 26 estimados para ela quando a lúpus foi diagnosticada. Na data, ganhou cartinhas comovidas de alunos e uma homenagem na escola onde trabalhava. Nada mais merecido.