Clélia Sousa Rocha

Apesar de namoradeira, Clélia não queria saber de casamento em Porto Real do Colégio, interior de Alagoas: só se relacionava com jovens de outras cidades, e era só ouvir de casório que caía fora. A resistência durou até seus 23 anos, quando conheceu José. O moço, viúvo e pai de um menino, nascera na região, mas morava em São Paulo, e foi apresentado pela tia, Macrina, enquanto visitava a cidade.

Apaixonada à primeira vista, Clélia deixou de lado a birra e a cautela - um ano depois ele retornaria para o noivado e outro ano depois para casar e levá-la para a cidade grande. Corajosa, foi sem conhecer ninguém, o amor por ele transformara a sua vida. Deixava para trás uma vida confortável, filha de um homem influente na cidadezinha, os nove irmãos, as tardes na estação de trem olhando o movimento, os bailes e festas de santo do povoado.

Depois de duas tentativas, tiveram três filhos: José Roberto, Eliana e José Edivaldo. Clélia cuidaria também do enteado, Juarez, e dos filhos e netos dele como se seus fossem. Foi uma mãe preocupada em alimentar suas crianças e cuidar delas nos momentos de doença, apesar de não ser das mais carinhosas. Quando eles foram para a escola, já sabiam escrever seus nomes e endereços, uma façanha sua.

Gostava de receber em casa os amigos dos filhos. Quando chegavam da escola, eram tratados com bolo, pão na chapa ou bolinho de chuva. Receptiva, hospedou muitos parentes do Nordeste, principalmente da família do marido. José era pintor de automóveis, e tinha na fama de ótimo profissional a garantia dos clientes que sustentavam a família sem luxos, mas com conforto. 

Clélia gostava de ter uma família grande, de ver seus filhos juntos e de cuidar de todos. Conquistou esse sonho e foi muito além das suas expectativas. Foram 13 netos: Lúcia, Marcos, Ângela, Maurício, Luciano, Fabiano, Felipe, Fernanda, Danielle, Rafael, Leonardo, Izadora, Gustavo Henrique. Bisnetos, 22: Eduardo, Rogério, Kelly, Bruna, Gisele, Ana Carolina, Reginaldo, Bruno, Karina, Vinicius, Jonatan, Marcos, João Vitor, Luan, Daniel, Gabriela, Giovana, Bianca, Gabriel, Guilherme, Tiago, Ana Luisa. 

Clélia ainda teve o privilégio de conhecer em sua longa trajetória dois tataranetos, Caio e Júlia, antes de partir levada por uma infecção renal. Realizou-se em sua família grande e feliz.