Arnaldo Morandim
Arnaldo tinha acabado de chegar em casa após ter alta no hospital na noite em que partiu. Recuperado de uma crise renal, estava feliz por estar de volta com sua família, sua esposa, seus dois filhos, o genro querido e os netos. Comeu pizza, se divertiu no celular com as crianças e à meia noite teve a parada cardiorrespiratória que o levou. Inconscientemente despediu-se das suas pessoas amadas, a quem dedicou tanto da própria vida.
Batalhou muito para construir uma base sólida para aquela família. Desde os oito anos de idade quando vendia bananas na rua, recém vindo com a família de Santa Cruz do Rio Pardo, interior de São Paulo. Fora influência de João, pai rígido com os filhos, todos dando duro desde cedo para ajudar em casa. Arnaldo ainda vendeu colchão entre outros bicos na juventude, mas lembra-se de ter conseguido curtir a zona leste da época também.
Maria Aparecida, a Nena, conheceu porque a moça alugava uma das casas de seu pai. João gostava muito dela e aprovou o relacionamento de cara, mas os dois precisaram de dez anos entre idas e vindas para enfim casar. Arnaldo eventualmente trocou os pequenos serviços pela Aeronáutica, mas desgostou-se de lá quando não foi avisado da perda de um sobrinho por estar destacado. Pediu baixa e entrou para a Polícia Militar, força da qual orgulhava-se e onde trabalhou até a aposentadoria.
Para os filhos, Arnaldo Júnior e Karina, esforçou-se em dar de tudo, fazer todos os gostos. Queria para eles tudo o que não tivera. Em aparente contradição com a imagem de militar, era carinhoso e até mesmo permissivo com as crianças. Dizia “pode fazer que se der errado eu estou aqui”, sem esconder dos filhos seu lado doce.
O jeito durão, teimoso e enérgico reservava para “os de fora”. Ainda assim conquistou amigos no jeito divertido e festeiro. Adorava tecnologia, redes sociais, celular. E também era atraído pela magia dos carros, um interesse de longa data.
Arnaldo teve quatro netos e foi um avô presente, desses que brincam junto. Viveu uma das maiores tristezas de sua vida ao perder o mais velho, Cláudio Neto, com quem conviveu mais tempo, mas seguiu próximo de Pedro, Enrico e Kauã.
Orgulhava-se da casa de repouso Perseverança, da filha Karina, e mesmo internado no hospital para tratar dos rins distribuía cartões do empreendimento. Arnaldo resistia à ideia de fazer hemodiálise, mas enfim cedeu. Queria ficar bem logo para voltar para casa, ao lado dos seus.