América Alves de Oliveira

 
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Não havia infância naquela fazenda em Ibitirama, no Espírito Santo, onde cresceu América. Mais nova de sete filhos, não lembra de outra vida além de acordar às cinco da manhã para bater enxada na plantação de café dos pais, Américo e Maria da Conceição. Como muitas vezes ocorre, a leveza da vida se apresentava no gargalo de uma garrafa de bebida.

Conheceu Albino na época da colheita, quando os moradores das fazendas vizinhas se uniam para dar conta da safra. Tiveram dez filhos juntos, nove homens e uma única mulher. Com a mudança para Belo Horizonte, América separou-se da própria família sem saber que seria para sempre. Acostumava-se à vida de dona de casa enquanto o marido viajava a trabalho.

Com o número de filhos aumentando, começou a perceber que não era possível seguir apenas como dona do lar. Lavar roupa para mulheres com mais dinheiro a um valor irrisório foi a saída encontrada para amenizar a fome que começou a passar com as crianças. Colocava água na mamadeira, plantava onde achava terra e colhia os vegetais verdes. A fome dos pequenos não esperava.

América sempre foi calma e observadora. Quieta, mas amiga do sorriso e dona de um coração gigante. Não carregou mágoa ou rancor de ninguém, mas teve uma grande frustração: não ter reencontrado sua família. Fora embora, mas não sabia como voltar. E quando descobriu afinal o antigo endereço, seus pais já haviam falecido e seus irmãos se mudado.

A exceção foi Eni, a quem chamava de "menina" nos devaneios dos últimos tempos. Irmã de criação descoberta pelos parentes durante as buscas pela família dela, foi a única encontrada viva no Espírito Santo. Os dois encontros que tiveram depois disso foram o maior presente desses momentos derradeiros.

Depois do falecimento do esposo, mas antes de começar a perder a lucidez, encontrou Deus nos cultos. Abandonou o álcool e o cigarro, e adorava as palavras ministradas. Sua única filha, Eliza, lhe deu três netos: Carla, Mayara e Carlinhos. Bisnetos foram seis: Yago, Sara, Otávio, Yuri, Sophia, Isaque.

Eliza e Edilson, outro filho, cuidaram de si enquanto a saúde se deteriorava, sem a abandonar um só instante. Um câncer nos rins e o eczema pulmonar causado pelo fumo precoce a levaram com outras complicações. América partiu nos braços de sua filha, segurando sua mão. Algumas lições ditas e não ditas ficaram, porém. A paciência no trato, a paz que transmitia para a família, e o amor que pregava. Tudo permanece vivo no coração das pessoas que a amaram.

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