Aderson Ferreira Lima
Aderson teria que cruzar o Brasil para encontrar Zélia, o amor da sua vida. Ela porém, nascera logo ali, em Simplício Mendes, cidade próxima à São Raimundo Nonato natal dele, no interior do Piauí. E mais, o encontro não se deu em São Paulo, para onde ambos se mudaram à procura de trabalho. O destino quis que a paixão surgisse justamente na longa viagem de ônibus de volta ao sertão, para visitar as respectivas famílias.
Ela permaneceria como secretária em uma indústria alemã até passar a cuidar dos filhos, Aderson Júnior e Gisélia. Ele foi alfaiate por anos, ofício que aprendeu observando o pai, Eliezer, e a irmã Altair, costureira. Seguiu fazendo bicos costurando até depois de empregar-se na cooperativa do Banco do Brasil.
Lá ficou por 32 anos, cuidando do setor masculino da loja de departamentos da cooperativa. Com o tempo, assumiria a gerência de todos os setores, sempre envolvido com as demandas de mercado, feiras da área têxtil e desfiles de moda. Por fora, costurava para os gerentes e para as pessoas com quem tinha contato. Fez um grupo grande de amigos nessa época, que conquistou com o jeito piadista e com o humor característicos.
Morou com a família no Brooklin por alguns anos até a compra da casa própria no bairro de Itaquera, onde fez grandes amigos como o Sr. José, o Sr. Albani e o Sr. Paulo. Foi a realização de um grande sonho, construído na parceria e na cumplicidade com Zélia. Ninguém fazia nada sem o aval do outro. O imóvel no Tatuapé foi uma grande conquista de toda a família que rapidamente se adaptou ao bairro alegre e dinâmico, testemunhando seu crescimento nos últimos anos.
Dentro de casa Aderson era teimoso, gostava de fazer tudo do seu jeito. Mas preocupava-se com a família. “Cuidava dos horários na rua, chegava a ser chato”, lembra-se Gisélia aos risos. São-paulino roxo, gostava de ir ao Morumbi e chegou a levar o filho, parte do ritual de conversão. Seu hobbie era assistir às partidas em casa, com torcida da família inteira menos de Zélia, santista de carteirinha. Ou assistir a um de seus DVDs de música. Era fã do sertanejo de Leonardo, Chitãozinho e Chororó, e da disco music dos Bee Gees e do Abba.
O vínculo com o Nordeste foi mantido com as viagens para o Piauí. Afeita a passeios, a família visitou o Circuito das Águas, Campos do Jordão, Guarujá e até Foz do Iguaçu, Argentina e Paraguai. Preocupava-se em dar esse lazer para as suas crianças. E ano depois, com a feliz chegada da nora, Naia, ganhou uma netinha, Beatriz.
Após superar um câncer de próstata e uma encefalite viral descobriu um linfoma raro e as convulsões que limitaram a sua autonomia. Faleceu após uma queda no banheiro de sua residência que provocou um traumatismo craniano. Recuperava-se das intercorrências da quimioterapia, sempre com muita disciplina e vontade de viver. Ao lado do fisioterapeuta, Rodrigo, estava em plena recuperação, quando a família foi surpreendida pelo acidente doméstico.