Pedro Zeferino do Nascimento
Aquele reencontro precisou esperar uma década para acontecer, mas valeu a pena. Pedro retornou à Itaracatu natal depois de uma infância de muito trabalho naquele sertão pernambucano e de uma longa temporada no Paraná, dando duro nos cafezais. Helena cantava no coral da igreja da cidade quando o avistou pela janela. Na época da partida do primo sentia o coração pulando pela boca quando o avistava, desta vez seriam ambos arrebatados pouco depois daquela missa.
A namoradinha dele de então foi mais fácil de superar que a resistência das famílias dos dois lados. Os pais de Pedro consideravam os familiares de Helena pobres demais: não tinham nem uma vaca para “parear” com o boi deles. Mas era para ser, ela não havia passado por outros cinco noivados antes disso em vão. Depois das ameaças protocolares aos pais, casaram-se para começar os primeiros daqueles 56 anos juntos.
Pedro foi um marido amoroso e responsável, nunca largou a mulher para beber ou para sair. Foi um pai carinhoso com os três filhos, Edivaldo, Edilei e Elizete - uma segunda menina não sobreviveu após nascer. Naquela família em harmonia, o casal não teve uma briga sequer.
Ainda assim a vida não seria fácil. Dois anos depois do casamento tentaram a vida em São Paulo, mas a falta de trabalho e a chegada do primeiro filho os obrigaram a retornar à roça. Tempos depois, uma segunda tentativa, igualmente sofrida, na cidade grande. Desta vez compraram um terreno e à duras penas construíram uma casa.
Pedro trabalhou em fábrica de móveis, garagem de ônibus, como faxineiro e como ajudante de mecânico em uma funilaria. Um acidente de trabalho lá marcou o início de sua fase mais doente e o fim da trajetória profissional. A aposentadoria por invalidez também não veio fácil, sem seus percalços. Enquanto isso Helena ajudava nas finanças vendendo Avon, bijuterias, roupas usadas e rifas. Se Pedro não permitia que trabalhasse em empresas, também ela não deixaria ninguém passar necessidade.
Mais quieto e reservado, Pedro soltava-se um pouco com a família. Não tinha inimizade com ninguém, era só o seu jeito de caminhar no mundo. Teve a sorte de conhecer seis netos antes de partir, levado pelo agravamento de um câncer e de problemas renais, que levaram a uma infecção generalizada. Se a trajetória não foi fácil, Pedro conseguiu nela encontrar a felicidade.