Ezequiel Alves dos Santos
Ezequiel encontrou um norte espiritual na igreja, na fé em Deus e no trabalho de evangelização. O norte terreno surgiu de maneira mais prosaica, na bem-sucedida e longa carreira como vendedor de churrasquinho. O advento dessas paixões colocou a vida até então desregrada em um caminho virtuoso e capaz de trazer estabilidade psicológica e financeira para si e para as pessoas que amou, dando sentido à existência.
Fora criado como filho único em Belmonte, na Bahia, pela avó após o falecimento da mãe quando ainda era muito pequeno. Isso o impediu de conhecer os irmãos por parte de pai, criados em outro lar. Aos 19 desembarcava em São Paulo com alguns primos, viveu primeiro em Osasco e depois em Guarulhos. Foi armador de ferro de construção civil, mas acima de tudo viveu de bicos variados.
Conheceu Mercedes através de dois primos dela, Márcio e Marcelo, em um encontro de amigos em casa. O namoro virou casamento com a gravidez de Felipe. O filho juntou-se à Tatiana e Gisele, meninas do relacionamento anterior dela, na família que crescia. A esposa era como Ezequiel, fez de tudo um pouco, de enfermeira em um hospital a cozinheira em uma cozinha industrial. Os dois chegaram até a trabalhar juntos no aeroporto.
Mas a vida ainda era por demais caótica, o tempo precioso escorria pelas mãos e a condição financeira era apertada. A mudança coincidiu com a gravidez da caçula, Lays. O hábito de ir à igreja facilitou o fim das distrações enquanto a transformação ia se aprofundando em si: tornou-se diácono e começou a realmente se preocupar com a família.
Ezequiel não tinha muito estudo, era difícil conseguir emprego e sustentar a todos. A resposta, talvez inesperada, foi o churrasquinho. Com o trabalho dando certo, foi ficando. Dez anos se passaram assim, suficientes para construir uma vida e deixar uma casa confortável para a esposa. Quando cansou já era hora de se aposentar.
Sempre fora calmo, ao contrário da família de personalidade mais forte. Curtia os netos Guilherme e Bárbara; tinha os genros Lúcio, Anderson e Kaique como filhos; cuidava das plantas - tinha mão boa para isso - e gostava de assistir programas sobre animais e florestas, jogos do Corinthians e de vôlei. Evangelizava na porta da igreja, folhetinhos em mãos, falando com quem passava. Amava isso.
Partiu aos 67, levado por complicações de um infarto e de paradas respiratórias, mas deixou 20 louvores originais registrados. Muitos deles ouvidos e aprovados pela netinha recém-nascida, Lorena, em seu colo orgulhoso de avô babão durante as madrugadas insones de cólica. Em seu velório, a capinha simples daquele futuro CD, seu sonho, estava pronta para lhe homenagear.