Julia Astolfo Nascimento
Julia foi privilegiada por ter conseguido realizar todos os seus sonhos em vida. Teve filhos, netos e bisnetos, conheceu Fátima, em Portugal, e passeou pela Itália, dois de seus grandes objetivos. E chegou ao fim da sua caminhada feliz com o caminho percorrido, sem pendências e sem frustrações.
No início desse trajeto, em Corredeira, distrito de Pirajuí, interior de São Paulo, foi simples, mas tranquilo. Nascera em Amparo e se mudara ainda muito pequena para lá, onde com os cinco irmãos ajudava os pais no sítio da família e nas tarefas domésticas. Não houve tempo para brincadeiras, mas também não passavam dificuldade.
O jovem conterrâneo Domingos passava as férias por lá, vindo de um colégio interno. Julia, então com apenas 17 anos e apaixonada, casou-se com ele. O marido estava estudando para se tornar professor e, uma vez formado, encontrou trabalho em Lins. Ela trabalhou como ajudante em uma creche, fez concurso e tornou-se inspetora de alunos em uma escola pública. A família viveu em Tupã e depois em Garça.
Julia revelou-se adepta de uma disciplina quase militar na educação dos filhos, Benício e Teresa. Era exigente com eles, e hoje ambos creditam suas personalidades a isso. Dedicada à família e querida por ela, foi uma pessoa extrovertida e de conversa fácil.
Quando Teresa se formou e foi para São Paulo, os pais não aguentaram a saudade. Pouco depois Julia e Domingos estavam também na cidade grande, próximos dos quatro netos e dos dois bisnetos que viriam. Para eles, Julia foi bem diferente. Se foi rígida como mãe, era daquelas avós prontas para fazer todas as vontades.
Trabalhava na Pastoral da Saúde em uma igreja e duas vezes por semana visitava pessoas doentes. Gostava da sensação de ser útil e de poder ajudar. Recentemente o peso da idade começou a ficar mais difícil de sustentar. Depois de sobreviver a uma forte pneumonia e ficar 10 dias isolada por causa da Covid, Julia partiu tranquilamente no hospital. Poucos minutos depois de ouvir da filha Teresa que tudo ficaria bem.