Francisca Cardoso de Lima Xavier
O amor de Francisca ao cuidado e ao trabalho com a terra era imenso. E foi nesse contato próximo com a natureza, plantando e colhendo, que viveu alguns dos seus momentos mais felizes e encontrou refúgio nos difíceis. Descobriu nessa simplicidade o segredo para levar a vida com a leveza que lhe era característica.
Fora criada na lida com a lavoura, ainda na pequena Mato Verde, norte de Minas Gerais. A infância simples e humilde, dividida com os muitos irmãos, foi repleta de amor e de brincadeiras no quintal e nas ruas livres do interior.
Aos 14, a mudança da família para Marília, interior de São Paulo, alterou a paisagem, mas não a rotina no campo. Três anos depois, sua mãe, Maria, a apresentaria a Abelino, uma década mais velho. Casou-se à época por obediência a ela. Tiveram oito filhos: Aparecido, Jácomo, Zélia, Luiz, Maria Aparecida, Jovina, Xavier e Catarina.
A vida em Marília era boa. Arrendavam uma pedaço de terra onde plantavam arroz, feijão, milho e outras culturas. Tinham até funcionários, tudo ia bem. Até o falecimento repentino de Abelino mudar a realidade de Francisca para sempre.
Desorientada, com apenas 33 anos e oito filhos para alimentar, não viu saída a não ser aceitar o convite da mãe e se mudar para São Paulo. As crianças e mais o caçula Nilvado foram criadas pela avó Maria enquanto Francisca garantia o sustento de todos trabalhando como diarista. Não quis se casar novamente para preservá-los, doravante viveria para a família.
Com essa responsabilidade sobre si, Francisca tornou-se ali a mulher que inspiraria as suas filhas. Afeita à ação, à liderança e ao movimento deixou um legado de luta, de honestidade e de amor ao próximo. “A gente não espera muito acontecer, queremos ir e fazer. Foi isso que ela ensinou para a gente”, conta Catarina.
Alegrava-se com as idas à igreja aos finais de semana. Cristã evangélica, cantava no coral e sentia o coração pleno na comunhão com seus irmãos de fé. Também não dispensava os passeios ao shopping ou mesmo viagens, nem que fosse acampada em alojamentos. Sua disposição e animação eram conhecidas.
A matriarca Francisca aprendeu a valorizar as coisas simples da vida. As conquistas dos filhos e a chegada da respeitável descendência. Foram nada menos que 30 netos, 45 bisnetos e um tataraneto, a quem teve o privilégio de conhecer. Amava estar em família.
A também aceitava a natureza fugaz da própria existência, a ponto de dizer que o dia da sua partida seria o mais feliz de sua vida. E assim se foi, serena e satisfeita, levada por uma parada cardiorrespiratória. Ensinou muito.