Antônio Zirpoli
Um mês antes de partir Antônio percorreu os 300 quilômetros entre Guarulhos e o interior de Minas Gerais para transportar uma mudança pequena para uma cliente. Na ida e na volta dividiu o volante com o filho Emerson, parou para comer pão e tomar café mineiro no seu posto favorito, falou sobre a felicidade de estar na estrada. Lamentou apenas não ser mais novo e poder dirigir caminhões com mais frequência. Aquela fora sua grande paixão.
Desde jovem gostava de dirigir. Foram carretas, ônibus interestaduais, peruas e por fim os coletivos da antiga CMTC (Companhia Municipal de Transporte Coletivo) de São Paulo, por onde se aposentou. Como poucos, teve a sorte de trabalhar com o que colocava um sorriso em seu rosto - o pouco retorno financeiro era mero detalhe.
Chegou em São Paulo vindo do interior do Estado ainda adolescente, mas conheceu Maria José nas viagens como caminhoneiro. De tanto vê-la quando fazia entregas em frente à sua casa, em Juiz de Fora, começaram a namorar e casaram. Em São Paulo foram felizes como casal, envelhecendo juntos e ativos, entre passeios e idas à praia. Tiveram seis filhos: Emerson, Ronaldo, Débora, Rosemeire, Renata, e Valquíria.
Alegre e bem disposto, conquistava o entorno com seus causos da estrada. Ou ainda com histórias curiosas da sua vida, como os tempos trabalhando em circo ainda jovem ou da vez como figurante em um filme do lendário Mazzaropi. Antônio era amigo das ruas, frequentava as peladas de várzea do bairro e os botecos para tomar pinga com os amigos. Em casa curtia os clássicos sertanejos do Trio Parada Dura, de Milionário e José Rico, de Tião Carreiro e Pardinho.
Completou 80 anos, avô de seis, com uma grande festa repleta de família e de amigos e embalada pela música que amava. Foi ainda mais feliz naquele dia, a coroação de uma trajetória alegre como ele. Meses depois uma dor na barriga o levou às pressas para a mesa de cirurgia e, apesar da boa recuperação, não resistiu a um segundo procedimento. Antônio partiu, mas as histórias e o amor daquele coração viajante não.