Antonio Da Silva
A vida de Antonio foi literalmente indissociável da do irmão, Paschoal. Gêmeos idênticos, diferenciados apenas pelo bigode deste, eram parecidos em tudo, da profissão de pedreiro ao amor. Em uma dessas coincidências incríveis casaram-se com duas duas irmãs, Edivina e Filomena. E além de estarem sempre juntos, fosse no trabalho ou nas festas, moraram também um perto do outro, próximos fisicamente e afetivamente até o fim.
Antonio teve ainda outros dois irmãos, Benedito e João, na infância pouco lembrada: o trabalho nas construções veio muito jovem. Conheceu Edivina na olaria onde buscava tijolos com Paschoal. Ela trabalhava lá com Filomena, e os romances engataram um pouco após o outro.
Nessa época, Antonio era dferente. Fechado e reservado, falava pouco do passado. Permaneceu assim mesmo após a vinda dos sete filhos: Carlos, Herminio, Sergio, Aparecida, Marcos, Fatima e Silvana. Foram tempos difíceis aqueles, administrando as contas para cuidar de todos. Com a aposentadoria e a independência dos filhos, começou a transformar-se. A relação com Edivina ficou ainda mais próxima e a chegada dos netos acelerou ainda mais a mudança.
Antonio converteu-se no brincalhão da casa com seus 11 netos e três bisnetos. Adorava as crianças e era tudo para elas, sempre divertido, contando piadas, botando no colo. O sujeito mais durão e calado estava entregue, metamorfoseado em um avô exemplar.
Tinha uma paixão pela culinária, comer era o seu hobbie e experimentava de tudo. Quando pilotava o fogão, sua especialidade era uma famosa e amada sopa de feijão com legumes, ensinada para os filhos. Ou o creme de tomate com cebola, para comer com pão.
Antonio teve e realizou o sonho de morar sozinho com a esposa no terreno que dividia com o cunhado e lá ter seu próprio jardim. Realizou esse desejo com a ajuda de Silvana, viveu na casa cuidando e apoiando a esposa, que se tratava de um câncer há 14 anos.
Ele tinha uma saúde exemplar, mas descobriu uma esclerose lateral amiotrófica agravada nos últimos tempos. Depois de dois meses internado e de perder o prazer da comida na alimentação por sonda ficou mais abatido. A pandemia de Covid-19 o tirou do hospital, e uma semana depois partiu calmamente em casa. Onde queria estar.