Adhemar Gomes da Silva

 
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O sorriso nos rostos das pessoas e o olhar maravilhado não mentia: Adhemar realmente não precisava de nada além de um pandeiro para roubar a cena em qualquer festa ou reunião. Dono de uma técnica apurada e de uma paixão transbordante pelo instrumento, sabia encantar quem fosse. Era esse o lado artístico de um homem determinado a viver até a última gota, pleno de amor pela vida.

Muito antes de completar seus 91 anos já conquistara a família dos sonhos, unida e em harmonia. Mas o caminho até seus três filhos, sete netos e cinco bisnetas começou com uma singela carta a uma desconhecida. Aconselhado pelo pai, e como era costume à época, enviou seu pedido de casamento por escrito para Terezinha, prima do interior de Alagoas a quem nunca vira. Respeitando também a tradição de casos como esses, a moça aceitou.

Lembraria para sempre e repetiria com frequência e bom-humor a história de como gastou suas últimas economias para buscar a futura esposa e trazê-la para São Paulo.  Alagoano como ela, abandonara o Nordeste pouco antes para tentar a vida mais ao Sul. Seu pai, Euclides, vinha de uma família de classe média, mas perdera tudo em uma série de infortúnios. Era preciso recomeçar.

Não foi exatamente fácil, mas Adhemar e Terezinha agora tinham um ao outro, e pacientemente foram construindo uma família sólida como o relacionamento de seis décadas dos dois. Ele era determinado e nesse meio tempo tornou-se funcionário público e garantiu a estabilidade do lar. Três filhos não sobreviveram, ainda bebês, mas os meninos que ficaram — Ailton, Ademilton e Adilson — foram sua alegria.

O dicionário de Adhemar não continha a palavra sobreviver. Para ele, a nossa caminhada só vale a pena se for intensa como ela merece, mesmo se for preciso lutar por isso. E ele não teve medo de batalhar pelo certo. Dono de uma inteligência impressionante, permaneceu lúcido até os últimos momentos, testemunha da sua extensa família, a quem legou o significado da palavra amor.

Recuperava-se bem internado após dois procedimentos médicos quando teve um infarto fulminante na data exata do seu aniversário de 91 anos. Foram 11 dias de coma antes da partida. Mas quando o momento enfim chegou, suas muitas lições já haviam há muito sido aprendidas.

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