Marlene de Oliveira Gamarra

Marlene se apaixonou por Claudio na escola, aos 13 anos, mas precisou esperar para ver esse amor realizado. Foi só depois de adultos, das trocas de olhares e cumprimentos pelo bairro que a proposta de namoro surgiu. Em quatro anos construíram casa própria, noivaram e casaram. Nunca teve dúvidas de que fora uma das melhores escolhas de sua vida.

Mas não a única. Formada em Ciências Contábeis e com experiência na área administrativa de companhias, incentivou o esposo, torneiro mecânico ferramenteiro, a abrir uma empresa com ela. A Indústria Metalúrgica Gamarra foi o projeto conjunto do casal sócio, ainda no mercado após 32 anos de sua fundação.

O outro projeto, ainda mais importante, atende hoje pelo nome de Larissa e Juliana. Foi dessas mães exemplares, intensamente dedicada a proporcionar amor, conhecimento e fé às filhas. Ecoava a própria mãe, que precisou se desdobrar para criar oito crianças, sendo uma adotada, em meio a um marido ausente. Marlene orgulhou-se em ver as suas duas meninas formadas na universidade e casadas.

Seus passatempos eram criar novas delícias na cozinha, e viajar a bordo de livros ou em carros e aviões. Sonhava em conhecer lugares distantes, como Portugal, mas também queria desfrutar da vida com sabedoria e espalhar a palavra de Deus. Guiada pela sua fé e coragem, era uma pessoa extremamente determinada.

Marlene teve o privilégio de conhecer a primeira netinha, Alice. Foram quatro inesquecíveis anos de convivência. Era o tipo de avó que valorizava um tempo de qualidade e não media esforços para ver a pequena sorrir. A outra neta, Emily, Marlene conheceu apenas quando ainda vivia na barriga da mãe. Não houve tempo.

No Natal de 2018 descobriu um tumor maligno no cérebro, próximo ao sistema nervoso central. A recuperação da cirurgia correu bem, mas o tratamento cobrou o seu preço e, exatamente nove meses após a descoberta da doença, três deles em coma, Marlene deu seu último e silencioso suspiro. Não chorou ou se lamentou em nenhum momento dessa trajetória de luta. A sua força, como ocorreu em tantos outros períodos da sua vida, contagiou e inspirou o seu entorno.