Maria José de Jesus

 
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A longa vida de Maria José teve na fé e no amor pela família um norte confiável. Isso desde a infância em Córrego do Bom Jesus, interior de Minas Gerais, onde perdeu a mãe com apenas nove anos. Cuidaria a partir daquele momento do casal de irmãos mais novos. Brincava de casinha com eles, também ela criança.

Com apenas 16 casou-se com José. Conhecera o então agricultor em uma festa, sem ter como imaginar que passariam mais de sete décadas um ao lado do outro. Não foram tempos necessariamente fáceis aqueles. Deixaria uma casa com galinhas, vacas, porcos e certa estabilidade financeira por um lar bem mais humilde ao lado do marido.

Tiveram cinco meninas e três meninos, além de quatro que não sobreviveram. Passado o casamento e a vinda para São Paulo, Maria José teria praticamente um filho por ano e ficaria em casa cuidando deles. O marido tornou-se segurança e depois aprendeu o ofício de pedreiro e de graniteiro. Trabalhou para empresas e por conta, mas o dinheiro não era suficiente. Passaram necessidade, e ela optou por resistir calada e dando o seu melhor para os pequenos.

Mesmo analfabeta e de origem simples logrou educar todos os seus filhos e ensiná-los com carinho a serem obedientes e a terem caráter. Não saber ler e escrever a tornava dependente do marido, porém. Era José que fazia as compras e trazia tudo para casa, inclusive os tecidos usados pela esposa para costurar para os pequenos. Realizava-se fazendo shorts para os meninos e vestidinhos para as meninas.

Aprendeu a cozinhar com o marido, que tinha 23 quando casaram e assumia as panelas. Mas logo o superou. O cheiro do seu feijão, da carne de cabrito e da língua de boi eram sentidos por ele já na esquina ao voltar para casa depois de um dia longo.

A fé encontrou na Igreja Adventista do Sétimo Dia, junto com o marido. Levou consigo as cinco filhas, mas não os filhos apesar da insistência. A TV religiosa Novo Tempo eventualmente tornou-se sua maior distração. Perdia a noção das horas, feliz, assistindo à programação sobre a sua fé.

Completou raros 93 anos e justo no dia seguinte ficou doente. O cisto no fígado, até então controlado, aumentava pouco a pouco até comprometer também os rins. Maria José entrou em coma e não mais voltou. Teve 14 netos, 18 bisnetos e uma vida repleta de amor.

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