Manoel Maria da Silva

 
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O sotaque Manoel deixou em Portugal quando, aos cinco, imigrou para o Brasil com a mãe Ana Francisca e um irmão mais novo. Ganharia outros quatro na nova terra onde o pai, também Manoel, já vivia.

Adulto, chegou a trabalhar na centenária farmácia Botica Ao Viado d`Ouro, no centro de São Paulo, mas não escapou da vocação reservada pelo destino: ficar ao lado de Manoel pai na padaria da família. Manteve viva a tradição de tantos conterrâneos em terras brasileiras, mas aposentou-se à frente de um negócio tradicionalmente paulistano: uma lanchonete na rua Consolação.

O jeito prestativo e amistoso ajudava nos negócios, mas ia além. Era desses que sentem-se bem resolvendo problemas. A visita a algum amigo ou familiar tornava-se o gancho para “arrumar umas coisinhas”, usando do seu conhecimento difuso das problemáticas cotidianas.

Certa feita chegou a ajudar um grupo de conhecidos a montar um consultório odontológico inteiro. Predisposto a fazer e auxiliar, gostava de por a mão na massa, literalmente. Quando não resolvia problemas havia ainda outras paixões: as pescarias de rio; a câmera fotográfica e o prazer de capturar momentos em filme; e seu radinho, falante companheiro, inseparável onde quer que fosse.

Manoel não chegou a casar ou ter filhos, mas tinha bastante jeito com crianças. Tio favorito dos muitos sobrinhos, desenvolveu uma ligação especial com Marcos, cria da irmã Ana Paula. Escolhido para padrinho do pequeno, o tratou como se fora seu filho e foi tratado em retorno como pai postiço.

“Meu tio era uma pessoa muito amorosa comigo e sempre foi apegado a mim. Quando vinha aqui em casa dormia no meu quarto, na outra cama, e sempre falava comigo quando ligava de manhã”, lembra Marcos, hoje com 13.

A relação não se abalou nem quando o garoto decidiu trocar o Santos de Manoel pelo Corinthians. “Ele respeitou a minha escolha”. Nunca chegaram a comemorar juntos o aniversário, com apenas três dias de diferença, mas compartilharam muitos “Parabéns para Você” nas festas da família.

Os três anos sem o tio Manoel não foram fáceis para a família, combalida por outras perdas num curto espaço de tempo, e nem para Marcos. O adeus ao tio querido, porém, nunca foi esquecido. “Ele estava deitado na cama do hospital e antes de morrer tirou a máscara, mandou um beijo e disse que me amava”. O sonho do menino era tê-lo em sua formatura. Em na sua memória e pensamentos ele estará lá.

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