Arlindo Lucas de França
Arlindo conheceu 11 filhos, 25 netos, 16 bisnetos e dois tataranetos. Sua numerosa descendência tinha nele alguém trabalhador, movido pela necessidade de criar e de alimentar os seus, dando o que não tinha se preciso fosse. E presente na vida de todos, uma verdadeira façanha no seu caso.
A juventude sofrida e sem recursos na roça em Ilhéus teve fim no encontro fortuito com Maria da Paixão em um baile na cidade. Morariam na casa de Tereza, uma de seus quatro irmãos. Lá mesmo viriam as quatro primeiras crianças: Valter, Edson, Eliane e Edna.
A mudança para São Paulo buscando um farol para a vida era necessidade inadiável, mas não foi a resposta imediata. Com mais três filhos, Dilson, Elisangela e Evandro, as dificuldades financeiras somavam-se à recusa dos proprietários de imóveis em alugar suas casas para uma família tão numerosa.
Houve uma sequência de moradias precárias, de desemprego e de sofrimento para todos até a sorte de Arlindo mudar. Por indicação de amigos foi contratado como segurança de uma metalúrgica, onde trabalhou por muitos anos.
A vida melhoraria ainda mais quando, após conquistar a confiança de Walter, o dono, passou a trabalhar diretamente para ele. Tido como alguém bondoso e prestativo, o chefe mimava a família com presentes no Natal e na Páscoa. Arlindo conquistou pouco depois, na aposentadoria, a tão sonhada casa própria após tantos anos de aluguel.
A reação dos filhos à separação dos pais e ao segundo casamento de Arlindo, com Dionísia, foi de surpresa. O ato chocava-se com ideia que faziam dele: alguém de personalidade forte, mas honesto e correto ao extremo. Ao mesmo tempo, eram só elogios ao pai: “ele foi muito bom para a gente, as crianças não tinham o que reclamar dele”, conta a filha Eliene. Arlindo teria com a segunda esposa mais dois filhos, Bruna e Lucas, e seria padrasto de outros dois dela, Flávio e Thais.
Amante de forró, colecionava LPs do gênero para ouvir em sua vitrolinha, além de álbuns de medalhões da MPB como Gilberto Gil, Clara Nunes e Martinho da Vila. Nas folgas, distraía-se como o vento no rosto em sua Caloi vermelha, pedalando curtas distâncias para se deslocar pelo bairro.
Arlindo já vivia com Dionísia no interior de São Paulo, em Torrinha, quando teve um AVC. A recuperação deixou sequelas e durante o tratamento, já em Suzano, foi levado por uma parada cardíaca. Sempre fora ele quem reunia a família nos aniversários e situações sociais, a despeito da personalidade fechada. Seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos agora vivem essa saudade.