Agenor Gomes da Silva

 
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Fora um pedreiro de mão cheia, o Agenor. Escolheu a profissão cedo para sustentar a esposa e as sete crianças e nela encontrou uma vocação. “Metido”, segundo os filhos, tinha prazer em olhar a obra acabada, conhecedor da habilidade de suas mãos. O orgulho e o prazer proporcionados pelo trabalho afastavam o cansaço, tornavam impensáveis reclamações e garantiram disposição até a idade falar mais alto. Esse legado da ética profissional sobreviveria a si.

Pernambucano de Feira Nova, trabalhou no roçado do pai com seus três irmãos. Severino era comerciante e tinha um armazém na pequena cidade. A mãe, Ricardina, costurava para fora. Foi lá mesmo que um dia apaixonou-se pela moradora da casa da frente. Conhecia Maria desde sempre, mas foi engatarem o namoro para casarem logo em seguida. Agenor era vaidoso e galanteador; foi o primeiro e único amor da esposa.

As sete crianças, consequência da paixão dos dois, não tiveram vida de luxo, mas contaram com o necessário e com ensinamentos sobre o valor da honestidade e sobre a tentação do dinheiro fácil. Viram conviver no pai tanto o homem enérgico, firme até demais nas decisões e dado a lições de moral, quanto o sujeito festeiro e pé de valsa que os levava para assistir serestas, todos espremidos em um pequeno Fusca.

Foram gratos pelas broncas e até pelas atitudes mais autoritárias dele, responsáveis pela construção do caráter. E também pelo lado boêmio, fã de cantores antigos como Ângela Maria, Waldick Soriano e Reginaldo Rossi, apaixonado por forró e vanerão e grande promotor de união familiar. Agenor amava ter os filhos os perto e, mais velho, realizou o sonho de construir uma casa grande com laje espaçosa para reunir todos.

A ida para São Paulo foi pouco usual. Valdilene, uma das filhas, fora passar férias no Sudeste com a avó aos 13 anos e decidira não voltar. Viveu com os tios e poucos anos depois ganhou a companhia do pai e de uma irmã em outra casa. Trabalhando nas obras da metrópole, logo Agenor juntaria dinheiro para trazer o resto da família. Viveram os nove em um casebre de apenas dois cômodos até as coisas melhorarem, como aconteceria. Houve aperto, mas sobrou felicidade também.

Os 16 netos e 3 bisnetos que chegou a conhecer (há mais um pequeno a caminho) conheceram outro Agenor. Bobo que só, criou alguns deles como filhos e fez por eles aquilo que o temperamento e o zelo não deram conta antes. Porém, os 60 anos de fumante cobraram enfim seu preço e ele desenvolveu o câncer de laringe que o levaria.

No funeral, vendo o marido, Maria disse algo que marcou a filha Valdilene: “seu pai foi meu principe, talvez não como sonhei, mas o que eu tive a oportunidade de ter. Sei que muitas vezes não fui para ele a princesa que imaginava, mas na velhice nós tivemos a oportunidade de conhecer o melhor de nós mesmos. E mais do que isso, tivemos sete filhos saudáveis, que estavam ali quando ele mais precisou”. Viveram juntos por 58 anos.

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