José Severino da Silva
José caminhava pelas ruas da sua Timbaúba natal, no interior de Pernambuco, quando avistou a mulher que lhe faria perder o sono dali por diante. Pediu logo a mão da moça a Manoel, pai dela. Ele a consultou e com o aceite de Joana tornaram-se noivos como determinavam os costumes dos anos 40.
Seguiu a tradição também na subsequente viagem a São Paulo, um ano sozinho procurando trabalho, arrumando os móveis e a casa para receber seu amor. Voltaria depois ao Nordeste para enfim casar e trazer Joana consigo. Mais velho de 7 filhos e órfão de pai desde jovem, crescera na roça como chefe da casa. E, fiel ao papel, foi com o tempo trazendo também a família inteira para a cidade grande.
José empregou-se na antiga CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos, atual SPTrans) e aposentou-se por lá mesmo após três décadas de trabalho. O jovem que fora contratado como cobrador terminou a carreira na parte administrativa.
Teve com Joana três crianças: Sueli, Sérgio e Sandra. Preocupava-se com o futuro deles e fez de orientá-los a sobreviverem sozinhos no mundo sua missão de vida. Era muito rígido em casa, sua maneira de legar-lhes conceitos instransigentes como responsabilidade, retidão, honestidade. “O que ele nos deixou ninguém tira da gente, que são os valores”, conta Sueli. José manteve-se próximo para ajudar no que faltasse, mesmo depois de vê-los casados.
Joana sentiu após ver suas crianças crescidas vontade de ter seu próprio dinheiro e passou a trabalhar como mascate, vendendo produtos de porta a porta. Com a aposentadoria do marido, jovem aos 50 anos, montaram juntos uma lojinha de venda domiciliar. Coordenavam uma equipe de vendedoras que percorriam as ruas com catálogos de produtos cosméticos, vendiam e entregavam depois.
Fechado, José entretinha-se lendo e assistindo aos jornais. Gostava de estar por dentro da política internacional e dos assuntos do dia. Mas, apesar do jeito sério e pouco afeito a brincadeiras e visitas, era dono de um trato agradável, sempre disposto a ajudar quem precisasse.
O Alzheimer não foi o suficiente para fazê-lo esquecer das netas gêmeas, Maitê e Priscila. Os outros três netos, Éder, Denner e Eduardo ele mesmo ajudou a criar. Porém, as complicações da doença se avolumaram até enfim o levarem. José foi feliz, satisfeito com a vida que construíra.