Valdecir Pinheiro Torres

 
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Era comum ouvir de Valdecir uma pergunta um tanto indiscreta: “como faço para trabalhar com o que você trabalha?”. A curiosidade o movia, queria saber como as pessoas tocavam seus serviços, como compravam suas coisas. Foi essa sede de saber e de vencer que conduziu a sua vida e garantiu o eventual sucesso, responsável pelo sustento e conforto da sua família, seu objetivo mais importante.

Da origem humilde até a bem-sucedida empresa de sistemas de cartão de crédito percorreu um longo caminho. Perdera o pai, Vergniaud, muito cedo ainda em Sales, interior de São Paulo, e acompanhou a mãe, Sebastiana, na mudança para a capital com os três irmãos. Enquanto ela trabalhava como doméstica para criar sozinha as quatro crianças, Valdecir fazia bicos, carregando sacolas de feira e prestando outros pequenos serviços.

A vontade de estudar, de fazer cursos, de poder consumir e deixar para trás a vida difícil falou alto. Foi quando conheceu Maria em um baile de clube. Chamou-a para dançar e, apaixonado à primeira vista, anunciou ali mesmo que nunca a deixaria escapar da vida dele. Foram ambos seus primeiros namorados, e o relacionamento e casamento coincidiram com o início da faculdade noturna de Administração dele, cursada após dias inteiros de trabalho.

Tiveram neste momento o primeiro filho, André, seguido quatro anos depois por Cíntia. Nesse meio tempo conseguiu um bom emprego, enquanto Maria cuidava das crianças. E de tanto trabalhar na área de computação de grande porte para bancos, acabou montando a própria empresa para prestar serviço aos antigos empregadores. Lentamente a vida melhorava.

Investiu em estudo e cursos para os filhos, não media esforços pra isso. A família estava em primeiro lugar, vivia muito pra Maria e para as crianças. E sempre insistiu para a esposa ficar em casa enquanto ele trabalhava. Formavam uma boa dupla, literalmente.

A paixão pelo tênis surgiu inesperadamente depois de se associarem a um clube em Itapecerica da Serra. Jogavam juntos e bem, e ele chegou a fazer parte da Federação Paulista de Tênis. Maria até seguiu praticando durante parte da gravidez da caçula deles, Flávia. Com o tempo, compraram uma casa ao lado do clube para ficar por lá com a família aos finais de semana. Rarearam porém as visitas semanais às casas da mãe e da sogra.

Um pouco antes de ser diagnosticado com a cirrose hepática que o levaria, Valdecir passou a interessar-se pela religião e a aprender sobre Jesus e sobre Deus. A mudança repentina após uma vida com a espiritualidade em segundo plano teve efeitos surpreendentes. Os sorrisos passaram a visitar seu rosto com mais frequência, e palavras de amor saíam desempedidas de seus lábios. Se o afeto já encontrava nos atos um veículo, agora também tinha a voz para manifestar-se.

Em seu enterro a filha Cíntia puxou uma salva de palmas para celebrar a trajetória do pai e seus aprendizados nesse caminho. "Meu pai fechou o ciclo dele de maneira muito linda, cumpriu com chave de ouro a missão dele aqui."

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