Maria Omura Nosse

 
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Talvez por ter sido levada com apenas uma semana de vida para a roça onde seus pais trabalhavam, deitada sob a sombra de uma árvore, aos cuidados de uma irmã mais velha. Talvez por ter puxado à mãe, Koharu, na tendência à atividade. O fato é que poucas pessoas tinham a energia e predisposição de Maria para o trabalho. O constante produzir a definiu em vida, mas, longe de fazê-la esquecer dos prazeres da vida, desaguou em uma velhice tranquila após um caminho vitorioso.

Se o fim foi pleno, o mesmo não pode ser dito do início. Koharu e o marido, Shohe, vieram do Japão buscando uma miragem, uma promessa não realizada de prosperidade no interior do Brasil. Encontraram no lugar uma realidade duríssima em Jurucê, São Paulo. Dos 12 filhos apenas cinco chegaram à vida adulta, contando Maria. Ainda assim, recordava-se de uma infância feliz, de parceria e carinho entre os irmãos, além de uma boa dose de labuta na terra.

Conheceu o futuro marido, Sami, com apenas 10 anos. O garoto, então com 17 anos, morava em uma cidade próxima, e as famílias eram amigas. Já nutria desde aquele tempo certa afeição por ele, mas precisaria aguardar 13 anos e uma mudança para São Paulo para viver esse amor. Como diria ela depois, foi difícil conquistar o homem.

O reencontro deu-se com ambos vivendo na cidade grande, ela trabalhando em uma fábrica de tecidos e ele em uma tinturaria. O sonhado casamento lhes trouxe duas filhas, Noeli, mais conhecida como Sati, e Nery, chamada de Mica. Maria retornaria ao trabalho já ao lado do marido na tinturaria que abriram na casa construída na Penha.

Viveriam boa parte do tempo dedicados ao serviço, especialmente ela. Com as filhas já crescidas fez um curso de cabelereira e, se o negócio doméstico lhe ocupava de segunda até a manhã de sábado, à tarde ajudava a cunhada Rosa em um salão de beleza na Mooca. Já os domingos passava ao lado do cunhado Mauro na movimentada hamburgueria dele no Ipiranga. Não tinha folga e nesse meio tempo ainda aprendeu a fazer perucas e vendeu roupas. Nunca parava.

Era impelida por uma natureza esforçada, trabalhadora e generosa, sempre disposta a ajudar. E mesmo nos seus momentos mais difíceis preocupou-se em não dar trabalho aos seus familiares, superando as dificuldades e erguendo-se sozinha. É feito quase milagroso que em meio a uma vida tão corrida ainda encontrasse tempo para cozinhar e cuidar dos seus. Pois sua feijoada e seus pasteis eram um sucesso absoluto. Boa de garfo, gostava de tudo, de comida japonesa a churrasco.

Quando não estava trabalhando e principalmente após enfim se aposentar, divertia-se costurando tapetinhos, assistindo aos programas do Sílvio Santos, preenchendo caça-palavras, brincando com o bisneto Enzo. Ou ainda viajando para o interior. Ficara encantada com Águas de São Pedro, Campos do Jordão, Holambra e Gramado e tinha na observação das flores uma verdadeira paixão.

Maria enfrentou e venceu um câncer de mama em 1999 para se confrontar com a morte do marido um ano depois. E em 2015 teve um AVC que não deixou sequelas, mas diminuiu um pouco daquele ritmo intenso pelo qual era conhecida. Ainda assim gostava de andar, fazia questão de passar a roupa e tinha até começado a fazer pilates pouco antes de partir. Tivera um infarto fulminante antes de poder voltar mais uma vez à Holambra e suas flores.

Viveu 88 anos plenos, aproveitados ao máximo e repletos de alegria e de carinho. Suas batalhas ao lado de Sami abriram o caminho para a ascenção da família, agora com mais três netos (Nelly, Dann e Leandro) e três bisnetos (Gustavo, Enzo e Gabriel). Sortuda, ainda logrou conhecer a felicidade e o amor.

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