Maria de Lourdes dos Santos Nunes Pereira

 
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Maria teve na portuguesa Gouveia uma infância completamente diversa da vivida pelas crianças contemporâneas.

Ela e os irmãos ajudavam os pais a tirar leite de vaca e a fazer queijo. Subiam em árvores e colhiam frutas. A existência idílica de outrora já era capaz de revelar parte do caráter energético e ativo que definiria seus dias futuros.

Especialmente a rotina de trabalho braçal encarada com o marido, Albino, na chegada ao Brasil. Vieram logo após o casamento. Ela com apenas 17 anos, ele com 22, e se virando como podiam no novo lar. Ela trabalhou, entre outros lugares, em uma fábrica de macarrão. Fazia a massa e até carregava sacos de farinha se preciso fosse. Seu companheiro foi cobrador de bondes e dirigiu tratores em um depósito de construção.

Tiveram um filho, fruto de uma gravidez complicada e de uma das primeiras operações cesarianas do Brasil.

Muitos acharam que o pequeno Aníbal não sobreviveria, mas a criança tinha o espírito guerreiro da mãe. Logo moravam em uma casa própria adquirida com as próprias economias. Maria não gostava de deixar nada para depois, não adiava o que podia ser resolvido antes.

Comemorou 50 anos com Albino em um segundo casamento na igreja e passou com ele outros dez, o primeiro e único homem de sua vida. O falecimento dele foi um baque no início, quando falava da saudade e de estar junto novamente. Analfabeta, tinha nos olhos do marido os seus e dependia dele até para usar o telefone ou anotar recados. A aceitação da partida veio com a naturalidade com a qual encarava essa questão. Maria sempre gostou de visitar cemitérios.

Foi uma segunda mãe para as duas netas, Camila e Danielle. As buscava na escola, fazia almoço e lanche e cuidava delas na ausência da nora, Marli. Mas quando as chamava e não vinham imediatamente, era com aspereza que se manifestava a ansiedade. Para ela era tudo para agora.

O jeito comunicativo de Maria lhe rendeu muitas amigas, de quem não recusava os passeios que fossem, até para hospital. Suas caminhadas matinais, às 6h, não conheciam restrições climáticas. Estava na rua fizesse sol ou chuva. Passada a dor da partida de Albino, não parava mais. No Clube Leão, perto de casa, fazia aulas de ginástica e frequentava as festinhas com dança.

Partiu repentinamente. A cirurgia para instalação de um marca-passo para o coração que fraquejava causou-lhe complicações inesperadas. Maria pôs intenção em energia em tudo na vida. E colheu de volta conquistas e amor.

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