Manoel José da Silva

 
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Manoel foi privilegiado. Pode experimentar em vida a sorte de ter três filhas e de quebra realizou também o sonho de ser pai de meninos, divertindo-se e cuidando de quatro netos homens. Nessa trajetória, venceu, como muitos de sua geração, um certo bloqueio com demonstrações físicas de afeto para tornar-se um avô carinhoso e brincalhão. No fim das contas, isso combinava muito mais com ele.

A família tinha para si uma importância ímpar. Se as memórias da vida na roça em Santos Dumont, Minas Gerais, ficaram esvanecidas na memória, lembrou até o fim da vida da mãe, Maria Orbano, e do pai, José Luís. Por eles e pelos nove irmãos nutria um amor eterno, a ocupar um grande espaço no seu coração.

A vinda para São Paulo deu-se logo após o casamento com Maria Amália. Com apenas 15 anos ela o avistou na roça e apaixonou-se no ato. Já na metrópole ela daria à luz Maria Aparecida, Joana D`Arc e Maria Helena e cuidaria do lar. Ele seria contratado pela Prefeitura Municipal de Guarulhos, onde trabalharia até se aposentar como guarda do Bosque Maia.

Suas filhas o tem como exemplo de pai, apesar do jeito calado e sisudo. Não passaram despercebidas as lições que dava com a própria vida sobre trabalho e honestidade. Já seus netos tiveram nele uma espécie de segundo pai. No quintal dividido com Joana cuidava dos pequenos Phelipe e Guilherme. A paixão e o apego por eles o fez desistir do sonho de voltar à terra natal após a aposentadoria.

Aquele homem alimentava ainda outros amores. A música sertaneja fluía de suas mãos para a viola e combinava bem com a verve cômica e com a apreciação pela pinga, que o acompanhou por toda a vida, até quando ficou doente. Também não dispensava um bom prato de comida e indulgia nesses prazeres com anuência da família, especialmente após os 80.

Gostava de andar sozinho e tinha um programa diário um tanto inusitado. Saía às 5h da manhã para ir à praça conversar com amigos, contar piadas e trocar relógios. Gostava desses rolos e, conhecedor do nicho, sempre acabava se dando bem. A família acostumou-se, entre divertida e intrigada, ao ver o vô com um modelo diferente a cada dia no pulso.

Em dezembro de 2018 participou de um momento único ao lado da família. Em meio a um tratamento para combater um câncer de estômago, entrou com a neta e noiva, Carla Michelle, no salão de festas do seu casamento, a bisneta Maria Clara carregando as alianças. Semanas antes de falecer contou à filha Maria Aparecida que gostaria de ser enterrado com aquele lindo terno usado naquele dia feliz. E assim foi.

Descobriu ter vencido a doença e no mesmo dia soube de um aneurisma em estado avançado. “Eu estou no fim, estou indo embora”, passou a dizer e brincando completava: “esse mundo não tem mais nada para oferecer de bom, se eu for embora eu vou descansar”. E assim foi se despedindo. No último dia ainda tocou sua viola, tomou sol e proseou com amigos.

O instrumento ficou para o neto Alberto Ramon. Manoel tinha certeza que ele seria um grande músico no futuro. Deixou ainda outro neto, Gustavo Leonardo, e a bisneta Lorena. Por pouco não conheceu Ana Laura, a esperada terceira bisneta, sopro de vida a mitigar saudades e lembrar a todos da natureza cíclica, finita e bela da nossa existência.

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